sábado, 4 de abril de 2020

Bloodsport

Um jogo de luta baseado em um dos grandes "clássicos do Van Damme"? Sim, isto mesmo. O jogo existiu e você o conhecerá agora.


Sobre o filme, nem seria preciso comentar. O Grande Dragão Branco (Bloodsport), produção dirigida por Newt Arnold em 1988, catapultou o belga Jean-Claude Van Damme ao estrelato e o colocou de vez no panteão dos astros de filmes de ação. A obra, supostamente baseada em eventos reais, narra a trajetória de Frank Dux em um torneio secreto de artes marciais. Todo mundo sabe.

 
O que nem todo mundo sabe é que, após o sucesso do filme, a empresa Midway planejou um jogo de luta para os fliperamas, nos moldes de Street Fighter II. A produção utilizaria uma inovadora técnica com personagens digitalizados. E um deles seria o próprio Van Damme. Entretanto, por qualquer motivo, o astro não pôde ou não quis participar da empreitada, que seguiu adiante, com a captura de movimentos de outros atores. Sim, os mais espertos já sabem: trata-se de Mortal Kombat, clássico absoluto lançado em 1992, em que o personagem Johnny Cage claramente tem inspiração no visual de Van Damme na última luta de Bloodsport. Além é claro, do inigualável golpe "Sokonosako", que Van Damme utiliza no filme e também se tornou uma marca registrada de Johnny Cage.

 
 
 
E o que nem mesmo eu sabia é que um jogo baseado no filme foi produzido nos anos 1990. Estava eu à toa nas interwebz, quando me deparei com uma versão digitalizada de uma edição da revista CD Expert. Uma publicação especial somente sobre jogos de luta. Inicialmente, o que me chamou a atenção foi a menção ao jogo Expect No Mercy na capa, um clone tosco de Mortal Kombat (e, por esta razão, memorável para este que vos escreve).


Ao vislumbrar as páginas da revista, me deparei com uma matéria sobre um jogo chamado Bloodsport. Em um primeiro momento, achei que era apenas coincidência. Mas foi só olhar para a primeira imagem e para os nomes dos lutadores, para meu queixo cair. Sim, é um jogo baseado no filme do Van Damme. 


Li a matéria e voltei aos confins das interwebz, onde encontrei uma versão shareware do jogo. Trata-se de uma produção sem qualquer licença oficial, criada na Alemanha por Harald Krines e Thorsten Schmidt, em 1992 (curiosamente, o mesmo ano de lançamento de Mortal Kombat). Uma produção amadora, verdade seja dita.

Iniciei o jogo e, de imediato, há uma tela de aviso de que se trata de uma versão shareware. A seguir, surge a tela-título com o nome do jogo e seus autores, ao som do trecho inicial da ópera Carmina Burana. Lembra quando Van Damme enfrentou adversários ao som da cantata de Carl Orff? Não? Nem eu. 


É apresentada então uma tela para a seleção de cenário. Kumite leva para o torneio, em que é preciso derrotar os demais oponentes. Apesar do simplismo gráfico, a tentativa de reproduzir o cenário do filme é bastante competente, com o tatame ao centro, espectadores ao redor, os juízes, as placas com os nomes dos lutadores. O outro cenário, Randori, é uma floresta aos pés do monte Fujiyama. Talvez uma tentativa de replicar as cenas de flashback do filme, que mostram o treinamento de Frank Dux. Neste cenário, é preciso derrotar seis oponentes, para se qualificar para o torneio secreto. O grau de dificuldade de cada um é dado pelas cores de suas faixas. Finalmente, Uchi-Komi leva a uma sala para uma sessão de sparring, para treino de chutes e socos, na tentativa de empurrar o adversário para fora do tatame.

 
Uma vez escolhido o cenário, é apresentada a tela com os lutadores disponíveis, quase todos adaptados do filme. São apenas quatro. Uma pena que não estão presentes lutadores emblemáticos, como Paco, Ricardo Morra e Pumola.


De qualquer forma, há Frank Dux, o protagonista.


Chong Li, o cruel campeão (e curiosamente de calças brancas).


Jackson, o amigo falastrão de Frank.

 
E o desconhecido T. Black, talvez baseado em Sen Ling, um dos lutadores que aparecem durante a projeção com kimono preto (mas poderia até mesmo ser o mestre de Frank, Senzo Tanaka, já que o personagem parece ser oriental, de mais idade, com o que aparenta ser um espesso bigode).
 
 

Em relação à trilha sonora: não há músicas. Alguns sons para indicar os golpes. E algumas vozes digitalizadas. Já quando o assunto é jogabilidade, infelizmente é preciso afirmar que se trata de um jogo deveras limitado. Por se tratar de uma versão shareware, só é possível controlar Frank Dux (os demais lutadores, somente no cenário Uchi-Komi). O estilo de jogo remete a obras como Karate Champ (que aparece no filme, por sinal) ou International Karate.

Mas os controles são complicados. A movimentação é feita pelas setas direcionais. Até aí, tudo bem. Já os socos são efetuados ao utilizar as teclas numéricas entre 3 e 9. Chutes acontecem ao manter pressionada a tecla CTRL em conjunto com as teclas direcionais. E os pulos são feitos através das teclas Home e PageUp. Agora olhe para seu teclado, coloque seus dedos sobre estas teclas e pondere se este é um padrão interessante. Para completar, a movimentação parece "acelerada", o que dificulta esquivar de golpes dos adversários. É possível diminuir esta aceleração no próprio jogo, mas, ainda assim, não fica mais agradável.

Eis um vídeo:


Sempre me perguntei o motivo pelo qual um filme como Bloodsport nunca teve um jogo oficial para qualquer sistema de jogatina eletrônica. Sim, tivemos Mortal Kombat. Antes, tivemos Pit Fighter. E só fomos ter um Van Damme digitalizado com Street Fighter: The Movie. Ainda assim, a gama de lutadores pitorescos do filme bem que poderia ter sido transformada em um interessante jogo de luta. Não foi o caso deste Bloodsport alemão de 1992, mas sempre é tempo.