terça-feira, 30 de março de 2021

Casa do Leitor

É chegado o momento de discorrer sobre a mais antológica casa de leitura de Cidra Beach.

 
Certas situações e certos lugares ficam gravados na memória, pelos mais diferentes motivos. No caso de Cidra Beach, há muitas boas recordações em minha mente. Quem viveu os tempos áureos dos Fliperamas de Cidra Beach, por exemplo, certamente compartilha de meus sentimentos.

Agora, ofereço algumas de minhas lembranças de outro recinto memorável: a Casa do Leitor.

Trata-se de uma loja, um misto de livraria, papelaria e bazar, primeiramente localizada na avenida principal da cidade, próxima à antiga praça central. Era uma casinha de madeira, geralmente pintada de verde. Pequena por fora, parecia grandiosa por dentro (provavelmente um efeito de meus olhos mirins e fascinados com tudo que via). A verdade é que, de fato, era uma casa abarrotada de publicações e outros itens.
 
Não lembro da primeira vez em que estive na Casa do Leitor. Mas lembro claramente de viajar para Cidra Beach em fins-de-semana, fora da temporada de verão, nos "velhos tempos de inverno". A rotina era quase sempre a mesma. Meus pais esperavam meu irmão e eu em nossa escola, aos finais de tarde de sextas-feiras, com o carro já preparado e, então, partíamos rumo ao litoral. Ao lá chegarmos, abríamos a casa, descarregávamos a bagagem. Meu pai e minha mãe tratavam de organizar tudo, enquanto meu irmão e eu saíamos para visitar os amigos (ou estes apareciam em nossa casa, já esperando que ali estivéssemos). Alguns momentos depois, meu pai nos levava ao centro da cidade. E uma parada era certa: a Casa do Leitor. 

A imagem a seguir, uma visão aérea de Cidra Beach nos anos 1980, mostra boa parte da área central, em que se pode identificar a Casa do Leitor, entre outros locais notórios do município. A constar, a imagem figurou em um cartão postal da época, aparentemente oferecido pela própria Casa do Leitor.

 
Abaixo é possível ver a antiga Casa do Leitor, no lado direito da imagem.
 
 
Desde cedo cultivei o hábito de visitar a loja e ficar um bom tempo simplesmente olhando os produtos nela presentes. E, quando possível, comprava aquilo que me interessava. Se hoje me considero um colecionador, a Casa do Leitor certamente teve papel importante nesta formação. Foi ali que adquiri muitos itens que até hoje compõem minhas coleções, sejam gibis, revistas, álbuns de figurinhas e afins.
 
Um exemplo foi o álbum de figurinhas do Rambo. Havia propagandas deste livro ilustrado em revistas e na televisão. Como fã do personagem, pelos filmes e desenho animado, fiquei afoito para ter este item. Pois em visita à tradicional casa de leitura, fui agraciado por meu pai com esta compra. Era uma noite de mais uma sexta-feira ou sábado, em mais um fim-de-semana fora da temporada de verão, nos "velhos tempos de inverno". Meu pai ainda presenteou um amigo meu com o mesmo álbum e, assim, passamos a comprar figurinhas e trocá-las quando possível, o que nos rendeu boas lembranças.
 

 
Outro item adquirido na Casa do Leitor e memorável (por um motivo não tão agradável) foi o Superalmanaque do Homem-Aranha, sobre o qual já dissertei neste blog. Foi mais um dentre outros tantos gibis de super-heróis comprados nesta loja.

 
Os gibis do Tarzan publicados pela Ebal também tiveram vez em minha coleção, graças às visitas à Casa do Leitor.
 

Naqueles tempos, publicações da editora Bloch anunciavam o lançamento de um gibi que de imediato me chamou a atenção: o Almanaque de Terror. A capa da primeira edição, com figuras malignas no primeiro plano e ladrões de covas ao fundo azul com uma lua cheia, se tornou antológica para mim. Vi a edição na Casa do Leitor. Por qualquer razão, acabei não comprando. Tempos depois, nesta casa de leitura, adquiri a terceira edição, cuja capa tem uma arte que replica imagem do filme "Drácula, o Perfil do Diabo", com Christopher Lee. Um dia ainda compro o primeiro número...

 
Lembro de ver na Casa do Leitor a edição nº 23 da revista Cinemin, publicada pela Ebal, cuja capa estampava arte do filme "A Hora do Espanto". A revista tinha tamanho diferenciado e, assim, a arte se destacava e ficou para sempre em minha memória. Infelizmente, não adquiri a edição.
 
 
E se não me falha a memória, foi na Casa do Leitor que comprei a edição nº 29 de Cinemin, que detalhou o filme "Aliens, o Resgate", com direito a um encarte especial.

 
E ainda sobre Aliens: não me recordo qual edição da revista Mad comprei primeiro (provavelmente a número 1, da editora Record, com a sátira de "O Retorno de Jedi"). Mas me recordo claramente de comprar a edição número 26 na Casa do Leitor. Era um final de tarde de sexta-feira ou sábado, nos "velhos tempos de inverno". Após comprar o item, fiquei dentro do carro, estacionado do outro lado da rua, próximo da antiga estação rodoviária. Junto de meu irmão e um amigo, esperava por meu pai, que estava em alguma outra loja (ou tratando de comprar a janta, não lembro ao certo). Enquanto isso, folheávamos a revista e dávamos muitas risadas com as bobagens que víamos.
 
 
No início de 1991, uma revista gerou alvoroço. Era a edição número 1 da revista VideoGame, cuja antológica capa estampava o Super Mario, sobre um fundo azul com imagens de outros jogos. Alguns de meus amigos compraram esta edição na Casa do Leitor e passávamos bons momentos folheando a revista e conversando sobre os jogos. Justamente por isto, acabei não dando prioridade para comprá-la. Quando finalmente decidi adquirir, já não estava mais disponível. Restou-me comprar a igualmente antológica segunda edição (se não me engano, na Casa do Leitor).


Em meados da década de 1990, com as modificações e ampliações feitas na área central de Cidra Beach, a Casa do Leitor se mudou para outro endereço, ainda na mesma avenida. A loja era mais espaçosa, mas perdera um pouco do charme do antigo reduto. Ainda assim, sempre foi parada certa a cada passeio no centro da cidade. Muitas vezes, nada comprava, apenas olhava. Ou seja: "secagem rápida e garantida".

Foi neste segundo recinto, por exemplo, que adquiri minha primeira edição da revista SCI-FI News. Darth Vader na capa, impossível passar em branco para um fissurado em "Guerra nas Estrelas" como este que vos escreve, conforme relatei em minhas Lembranças de Star Wars.
 
 
Uma das últimas revistas que comprei nesta segunda loja foi a edição número 1 de "Marvel Terror". Estava acompanhado de um amigo, fã de filmes de terror, que ficou admirado com a arte da capa.
 
 
A partir de 2018, a Casa do Leitor mudou de direção e, novamente, de endereço, não mais situada à avenida principal (em verdade, fora do centro da cidade).
 

Com menor espaço e poucas opções, ainda assim reservou algumas surpresas para este saudosista maldito que vos escreve. No verão de 2020, foi nesta nova loja que adquiri alguns exemplares do clássico gibi do Hulk, lançados pela editora Abril nos anos 1980. Por um breve momento, fui levado de volta aos bons tempos da casinha verde de madeira, repleta de gibis, revistas, jornais e tantas outras quinquilharias.
 
 
Enfim, relembrar é viver. E eu vivo relembrando. Enquanto houver um resquício da Casa do Leitor, esteja certo que lá estarei para testemunhar.