sexta-feira, 14 de agosto de 2020

A Era de Saturno

Minhas memórias sobre o último console de videogame que tive nos tempos áureos: o magnânimo Sega Saturn.


Atari (Supergame CCE VG-2800), MSX (HotBit HB-8000), Mega Drive. Estes foram os sistemas que proporcionaram a jogatina eletrônica em meu lar, nos anos 1980 e meados da década de 1990. Tudo movido a cartuchos, fitas e disquetes. Quando a geração de 32 bits começou a dar as caras, algumas mudanças eram inevitáveis. O CD, embora usado em alguns consoles de 16 bits e computadores, passou a ser a mídia preferencial na quinta geração dos videogames, a oferecer melhor qualidade de áudio e mais espaço de armazenamento. Os consoles ganharam placas gráficas e processadores mais poderosos. Era a vez dos gráficos poligonais.

Assim, quando meu irmão ganhou um Sega Saturn, finalmente testemunhamos aqueles jogos de última geração tão comentados em revistas especializadas.

Entre 1995 e o início de 1996, a Tec Toy lançou dois modelos do console no Brasil. As diferenças entre os dois? Não sei. A única mudança evidente é o jogo incluso. O primeiro modelo, 180010, trazia o jogo Virtua Fighter. O segundo, 180030, vinha com Virtua Fighter Remix. Foi justamente este que adentrou meu lar. As caixas de ambos são idênticas. A Tec Toy apenas colou uma etiqueta com a palavra Remix abaixo do logotipo de Virtua Fighter.


Na lateral da caixa está discriminado o conteúdo do pacote, novamente com a "malandragem" da etiqueta Remix.

Etiqueta malandra.
Logo que foi adquirido, por recomendação de um amigo, levamos o Saturn a uma loja de eletrônicos, ocasião em que o aparelho foi "chaveado" para garantir desbloqueio de regiões. Desta forma, poderíamos jogar com discos produzidos no Brasil, Estados Unidos, Japão, Europa (e em qualquer outro lugar). Uma simples chave seletora foi adicionada na parte traseira do console e cumpriu o que prometeu: todo e qualquer disco que inseri no Saturn sempre funcionou.

 
 
 

A etiqueta da Bit Eletrônica ainda presente no equipamento:

Desbloqueio duplo!
Além do manual de instruções e certificados, entre os itens impressos que acompanhavam o console também estava um belo cartaz do jogo Virtua Fighter. No verso, imagens de outros títulos para o sistema.

 
 

O aparelho trazia apenas um controle na caixa e, portanto, um segundo foi comprado (se não me falha a memória, no mesmo dia). 


Ao ligarmos o Saturn, surgiu uma peculiar animação de abertura.


E quando ligamos sem um disco inserido, uma bela interface foi apresentada, com controles para o reprodutor de CD, configurações do sistema e gerenciamento de memória. Tudo muito intuitivo, com visual futurista. E um detalhe bacana: era possível ocultar todos os controles, deixando visíveis apenas as estrelas e o espaço, com uma espaçonave a cruzar a tela. Simplesmente memorável.


Conforme mencionei, acompanhava o console Virtua Fighter Remix, versão melhorada do clássico e revolucionário jogo de luta lançado pela Sega, nos fliperamas, em 1993. Com direito à etiqueta com a palavra Remix malandramente colada no manual. Com vergonha confesso que é o único título oficial de minha pequena coleção.


Todos os demais títulos são piratex, comprados em diversas bancas de camelôs no centro da cidade. O segundo jogo adquirido foi Street Fighter Alpha 2, coqueluche da época nos fliperamas, com igual sucesso nos sistemas caseiros. A versão do Saturn é tida como a melhor adaptação entre os consoles da época, com melhor fluidez das animações, jogabilidade mais consistente e menor tempo de carregamento (e tudo isto fica ainda melhor se for utilizado um cartucho de expansão de memória).


O terceiro título? Mais um jogo de luta, mais um sucesso dos fliperamas: Marvel Super Heroes. Imagine a alegria deste singelo escriba, eterno fã de super-heróis, ao poder controlar diversos personagens da Marvel, em um excelente jogo, com belos gráficos e sons. Muito, mas muito joguei. A versão presente no disco piratex é a japonesa, que permite desbloquear a personagem secreta Anita. Ainda assim, a capa piratex ostenta um tosco Universal Version.


O futebol não poderia ficar de fora, em meio à inovação dos gráficos poligonais. E assim, FIFA Soccer 97 entrou para a  coleção. Para este que vos escreve, a grande sensação era poder escolher o time do Grêmio, algo inédito até então nos jogos de futebol que eu tinha. Tudo que podia fazer, em títulos do MSX como Konami's Soccer e Match Day II, era editar os nomes dos times. FIFA Soccer 95, no Mega Drive, só permitia escolher o eterno rival. Para jogar com o tricolor gaúcho, só no "Futebol Brasileiro '96" do Super NES, mas nem o sistema da Nintendo, tampouco o jogo faziam parte de minha coleção. Portanto, quando adquiri esta obra para o Saturn, a satisfação foi imensa, não só por poder escolher o "time do coração", mas também por poder transferir jogadores e criar o "ataque dos sonhos", como meu preferido, formado por Edmundo e Batistuta. Infelizmente, o uniforme do Grêmio era verde, nem um pouco similar à realidade tricolor.


O disco ainda trazia uma surpresa: uma canção "escondida", não acessível durante o jogo. 



O próximo item a entrar para a coleção foi Batman Forever. Um bom beat 'em up para dois jogadores, no qual a dupla dinâmica precisa enfrentar hordas de meliantes chefiados por Charada e Duas-Caras. O jogo foi lançado em 1997 e segue a trama do filme dirigido por Joel Schumacher em 1995. Gráficos e sons competentes. A jogabilidade no Saturn é mais acertada do que o original dos fliperamas, a possibilitar um bom desafio, sem ser por demais frustrante.


Este disco também traz uma estranha mensagem sonora, quando escutado em um aparelho de som ou no player do Saturn.


Colada no disco, uma etiqueta do pirateiro.

 

Não me recordo se foi na mesma ocasião ou em outra visita aos pirateiros, mas, na seqüência, o jogo adquirido foi Area 51. Trata-se de um jogo de tiro em primeira pessoa lançado nos fliperamas em 1995, cuja versão para o Saturn chegou no ano seguinte. Com gráficos digitalizados e jogabilidade correta, rende bom divertimento.


Em certa ocasião, em nova visita ao centro da cidade, parei em uma banca repleta de discos. Ali havia muitos jogos de PlayStation. Em menor número, mas também presentes, estavam os jogos para Saturn. Entre eles, um que muito queria jogar: Daytona USA Championship Circuit Edition, versão melhorada do popular jogo de corrida produzido pela Sega. Não me fiz de rogado. A pirataria era tão safada, que sequer havia alguma impressão no disco. E para completar a tosquice, eu mesmo colei uma etiqueta com o nome do jogo. Não, não estragou o disco. Sim, funciona até hoje (as imagens logo abaixo foram capturadas no emulador SSF com o disco em questão).


Como o pirateiro amigo estava fazendo promoção e vendendo os jogos de Saturn a preços módicos, resolvi levar outros títulos. Entre eles, me chamou a atenção um tal de Bio Hazard. O nome não me parecia familiar, mas as imagens no verso da embalagem me lembravam de um jogo de terror muito comentado no memorável programa StarGame ("é hora de debulhar!"). Pois bem, era ele mesmo, conhecido por muitos como Resident Evil, aqui em sua versão original japonesa, sem censuras. Mas com todos os textos no idioma nipônico. Os diálogos falados, felizmente, estavam em inglês e, assim, consegui progredir e entender a trama. Mas lembro de ao menos dois momentos em que era preciso ler um documento e um diário (tudo em japonês) para obter a solução de alguns enigmas e avançar. Nestas situações, só consegui seguir após ver o que deveria ser feito em revistas. E, assim, venci o jogo na raça, sem manhas, com textos em japonês e tudo mais. Já fui guerreiro.


Ao reproduzir este disco piratex de Bio Hazard em um aparelho de som ou no player do Saturn, só se ouve esta mensagem:



Ainda levei mais dois jogos para completar o pacote. Virtua Cop 2 e Fighting Vipers. Um competente jogo de tiro em primeira pessoa e um belo jogo de luta tridimensional, ambos com gráficos poligonais, ótimos passatempos.
 
 
 
No verso da capa de Virtua Cop 2, aliás, veio colada uma etiqueta do pirateiro.

 

O disco de Fighting Vipers não tem impressão, apenas o nome do jogo escrito com pincel atômico. E como toda boa tosquice pirateira, com o título escrito incorretamente. Este jogo é memorável por uma razão singular: PEPSIMAAAANNN!!!

 


Os últimos jogos que adquiri, se não me falha a memória, foram Alien Trilogy e Impact Racing. O primeiro é um excelente jogo de tiro em primeira pessoa, em que o jogador percorre cenários baseados nos três primeiros filmes da franquia Alien. Bons gráficos e sons, ótima trilha sonora e jogabilidade consistente, com bons controles e bom desafio.


O segundo é um título de corrida com elementos de combate. Competente na parte gráfica e sonora. Apesar de parecer repetitivo, rende bom divertimento, assim que o jogador entende por completo a mecânica do jogo.


Ambos os títulos foram comprados em um camelódromo de Cidra Beach, em uma época em que os jogos do Saturn estavam se tornando difíceis de encontrar mesmo nas bancas pirateiras. Justamente por isso, comprei sem pestanejar.


A Era de Saturno marcou também os bons tempos do valoroso clã Jardim Satânico, com seus antológicos torneios FIFA (obviamente, com os jogos da série FIFA no Saturn e no PC), além dos torneios com jogos de luta, no Saturn, PlayStation e Dreamcast: "Torneio Fighting Masters" (com obras como Virtua Fighter Remix, Fighting Vipers, Tekken 3 e Soul Calibur), bem como o inigualável "Torneio Double Dragon". Tardes de sábado ou domingo de muita jogatina e diversão descompromissada. Sem contar as madrugadas de partidas online de Age of Empires, Diablo e Starcraft (passávamos mais tempo tentando estabelecer conexão do que realmente jogando).


O tempo passou. No final da década de 1990 adquiri meu primeiro computador "de gente grande" (o inigualável Pentium MMX 233 com Windows 95) e minha atenção se voltou para os jogos desta plataforma. Não tive qualquer outro console de videogame desde então (exceto o pequeno notável Dingoo A320, mas esta é outra conversa). De tempos em tempos, ligo o Saturn para confirmar que está funcionando corretamente. E aproveito para jogar um pouco. Em 2017, utilizei meu equipamento para testar um disco de Sega Ages: OutRun de um amigo, que por detalhes técnicos, não funcionou em seu console. Mas com meu Saturnino velho de guerra não teve conversa fiada.


Enfim, o Saturn segue firme e forte. Embora não seja o sistema habitual de jogatina deste escriba (em geral me volto para MSX e Mega Drive), marcou época e sempre proporciona belas lembranças.
 
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ATUALIZAÇÃO - 18/05/2023

Um novo item para a coleção. Desta vez, uma reprodução do selo Shmup Club, com disco, manual e spinecard. Foi encontrada em uma página de leilões nas interwebz. Estava lacrada. Estava. Você já sabe: aqui não tem essa de "manter lacrado pra valorizar". O jogo é Batsugun, produção da Toaplan, lançada pela Banpresto em 1996. 

Trata-se de um excelente shoot' em up com deslocamento vertical, considerado por muitos como o precursor do sub-gênero chamado bullet hell, em que o jogador se vê diante de infindáveis disparos inimigos, exigindo bons reflexos e precisão para vencer. Jogabilidade competente e desafiadora, gráficos, efeitos sonoros e músicas excelentes. E chefões gigantescos. Realmente, um belo jogo (e isso que nem sou grande fã do gênero). 

A obra foi lançada primeiramente nos fliperamas. A versão do Saturn foi melhorada e não apresenta lentidão, como acontece em alguns momentos do original. E oferece ainda novas armas, além da opção entre a trilha sonora original ou com novos arranjos. 

Enfim, uma bela aquisição. E viva o Saturnino!