sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Número 1

Desde que passei a me considerar um "colecionador", um fascínio que sempre tive foi adquirir as edições "número 1" de HQs. E acho que sei onde isto tudo começou.

Em meus tempos de infante, eu tinha alguns gibis da Turma da Mônica, de personagens da Disney e da Hanna-Barbera, dos Trapalhões ou mesmo HQs do Spectreman e do Fantasma. Já as publicações com personagens da Marvel e da DC eram poucas: alguns gibis do Batman e do Hulk (publicados pela Ebal, Bloch e RGE) que havia recebido de presente de tios e amigos. 

A partir de 1979, a editora Abril passou a publicar algumas HQs da Marvel no mercado brasileiro (Capitão América, Heróis da TV). Em 1982, outra publicação ganhou destaque: Superaventuras Marvel. As edições abaixo foram as primeiras que comprei destas coleções. 

Mas o momento histórico se deu quando a editora finalmente adquiriu os licenciamentos completos para publicar todos os personagens da Marvel e da DC. Assim, em 1983, dois heróis essenciais da Casa das Idéias finalmente ganharam revistas próprias pela Abril: Homem-Aranha e Hulk (ambos os títulos lançados em julho de 1983). 

A revista do Aranha oferece uma aventura empolgante, "Homem-Aranha: Ameaça ou Calamidade Pública?" (Spider-Man: Threat or Menace?, 1981), em que o Cabeça-de-Teia enfrenta o Justiceiro e o Doutor Octopus. Um item interessante neste gibi é o especial "A Força dos Heróis", em que diversos personagens da Marvel são apresentados e categorizados de acordo com seus poderes e habilidades. Completam a publicação uma aventura com o Cavaleiro da Lua, "Fantasmas" (Ghost Story, 1981) e a Mulher-Aranha em "A Vingança do Executor" (Blacked out -- by the Enforcer, 1980). 

A HQ do Hulk apresenta uma aventura em duas partes, "Nas Profundezas do Ódio" e "Fúria Incontrolável" (At the Bottom of the Bay e Battleground: Berkeley, ambas originalmente publicadas nos Estados Unidos em 1979), que por sua vez continuam uma trama mostrada, no Brasil, nos gibis do Capitão América. Depois, somos apresentados a Rom, o Cavaleiro do Espaço, em "As Asas da Morte" (Deathwing, 1980). E para encerrar, a Mulher-Hulk enfrenta perigosos adversários ao mesmo tempo em que precisa dominar por completo seus poderes em "Razão e Ira" (Reason and Rage, 1981). 

Para impulsionar os lançamentos, a Abril disponibilizou junto com as edições um álbum de figurinhas. A propaganda abaixo foi veiculada em diversas publicações da editora. Sempre que vejo esta imagem, o Saudosismo Maldito bate forte.

Um ano depois foi a vez de Batman e Super-Homem receberem o mesmo tratamento (em 11 de julho de 1984). Desta vez, sem álbum de figurinhas, mas com igual alarde nas propagandas.


A capa do gibi do Homem de Aço é instigante (na verdade, as quatro capas destes gibis de estréia são icônicas, ao menos para este que vos escreve). 

O gibi do Batman abre com uma clássica trama: "A Vingança do Coringa" (The Joker's Five-Way Revenge, de 1973), que tratei brevemente neste texto. Na seqüência, a origem do Caçador, personagem de menor expressão da DC, em trama de 1973 (The Himalayan Incident). Ainda, a memorável "O Beco do Crime", (There Is No Hope In Crime Alley, de 1976), em que temos um vislumbre do relacionamento do Batman com a dra. Leslie Thompkins. Depois, "Contrato Assassino" (The Assassin-Express Contract, 1972), primeira aventura do Alvo Humano. Enfim, "Morte Escarlate" (Red Water, Crimson Death, 1971), em que Bruce Wayne tenta tirar férias, mas se vê obrigado a enfrentar forças sobrenaturais. 

 
A HQ do Azulão inicia com a trama "O Demônio Voador" (The Demon with a Cape, 1984). Depois, "O Mago da Atlântida" (Atlantis, 1982), uma aventura de Arion, personagem místico da DC. Uma nova aventura com o Super-Homem, "Invasores de Krann" (Tales of the Fortress: The Invaders from Nowhere, 1971). Para encerrar, somos apresentados à heroína Ametista em "Ametista - A Princesa do Mundo de Cristal" (Duel in Dark Magic, 1983).


Todos os gibis iniciam com uma apresentação do personagem "dono" da publicação, bem como um breve comentário para deixar o leitor a par do contexto da aventura que está prestes a ler. 


Não me fiz de rogado e comprei as edições de estréia destes personagens, sem perceber que estava inserindo em minha coleção exemplares que hoje são considerados valiosos. Mas, vergonhosamente, não adquiri a nº 1 do Super-Homem (mas quem sabe um dia). A Abril passou a ser a "editora dos super-heróis" nos anos 1980 e muitos outros títulos vieram na seqüência, tanto da Marvel quanto da DC.

Minhas edições hoje mostram sua idade: meio amareladas, com as capas e algumas páginas soltas. Se fosse tentar vendê-las, certamente não conseguiria um valor interessante. Porém, jamais as venderia. São itens que me acompanharam por toda a vida e, portanto, têm um alto valor histórico, em termos editoriais, bem como por questão afetiva para este singelo escriba.