Muito já foi dito sobre a
brilhante performance de Heath Ledger como o Coringa em Batman - O Cavaleiro
das Trevas. Mas em todos os textos que li, sempre deixaram de lado um ponto
importante sobre o personagem, explorado com inteligência pelo roteiro do
filme.
Além de vilanesco, perverso e um
completo mau-caráter, há outro fator importante a considerar: o Coringa é o
maior mentiroso de todos!
Pode parecer apenas um detalhe,
mas é algo que sempre esteve presente nas HQs, de forma sutil ou óbvia, como
analiso a seguir. Para tanto, usarei como exemplo o clássico gibi Batman nº 1,
da Editora Abril, de 1984 (esteja certo que comprei à época e mantenho até hoje
a edição).
A história em questão, "A
Vingança do Coringa" (The Joker's Five-Way Revenge), foi
originalmente publicada em 1973, nos Estados Unidos, na revista Batman nº 251
da DC Comics.
Na trama, o Homem-Morcego precisa
correr contra o tempo para recapturar o vilão, que está à solta e agindo contra
antigos comparsas. Depois de diversos percalços, Batman finalmente encontra o
Coringa, que mantém refém o último sobrevivente de seu plano de vingança.
Diante do herói, uma proposta se apresenta.
Assim que o herói aceita as
condições para que o refém seja libertado, o Coringa entra em ação. Batman
protesta.
E então vem a frase-chave.
Mas, se ele diz ser o maior
mentiroso de todos, talvez esta frase também seja mentira e, assim, nem tudo o
que ele diz seria inverdade. E agora? A partir de uma simples frase, o leitor
se vê divagando sobre a essência do vilão. Ponto para Denny O'Neil. E outra
divagação interessante: o Coringa sempre teve noção de seu estado mental? Ou é
puro sarcasmo? Ambos? Isto só aumenta sua perversidade.
Agora vejamos duas situações do
filme dirigido por Christopher Nolan em 2008. Na primeira, após tantas idas e
vindas, o Coringa encontra Harvey Dent no hospital de Gotham. E uma das
primeiras respostas dele a Dent é:
Pega na mentira! Durante toda a
projeção, testemunhamos o quanto o Coringa planeja. Para toda ação, ele tem não
apenas um plano principal, mas um plano B e um plano C, mostrando o quanto ele
antecipa cada ocorrência. E mesmo quando os planos acabam, ele é um mestre da
improvisação.
A outra cena, ao final do filme,
na qual os cidadãos de Gotham agem contra a expectativa do vilão. A reação
dele?
Ou seja, o plano do palhaço
previa o revés. Se não ocorresse como queria, ele tinha um plano B. E talvez um
plano C. De uma forma ou de outra, ele tinha diversas formas de alcançar seu
objetivo final: instaurar o caos em Gotham. E vale lembrar que, quando a trama
se encerra, o Coringa vence. A polícia está desacreditada, Harvey Dent se
corrompeu e o Batman é visto como criminoso.
E ainda podemos mencionar os
momentos em que o vilão dá explicações sobre suas cicatrizes. Uma versão
diferente para cada pessoa.
"Quer saber como consegui
estas cicatrizes"?
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São situações que mostram que,
além de grande planejador, praticamente paranóico, o Coringa mantém sua aura de
mentiroso. Apenas mais uma nuance adaptada com perspicácia pelo roteiro que, ao
lado de uma interpretação excelente, deu vida a uma inesquecível versão do
personagem.