sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Eu tenho medo

Medo?

Medo eu tenho de sair na rua e tomar um tiro ou levar uma facada de um bandido que, mesmo se preso, dificilmente cumprirá uma pena de acordo com seu crime, em sua totalidade.

Medo eu tenho de ficar desempregado, de não conseguir pagar minhas contas, de não poder garantir meus direitos básicos de alimentação, moradia e um mínimo de conforto. Medo eu tenho de não ter um plano de saúde e depender do SUS e suas precariedades para sobreviver, já que os governos que aí estiveram não foram competentes para oferecer serviços de qualidade nos campos de saúde, educação e segurança.

Medo eu tenho de trabalhar a vida inteira e não ter direito a uma aposentadoria digna, pois o dinheiro que deveria abastecer a Previdência foi utilizado para outros fins ou simplesmente roubado.

Medo eu tenho de sempre precisar "apertar o cinto", de não ter condições de comprar comida, itens de higiene pessoal e outros produtos básicos, devido a um mercado cada vez mais engessado e impostos cada vez mais abusivos (que no fim só servem para sustentar instituições públicas incompetentes e deficitárias).

Medo eu tenho de governantes e partidos que se perpetuam no poder e não fazem reformas e investimentos essenciais para a evolução do país. Mas sempre se apresentam como solução para os problemas, a cada eleição.

Medo eu tenho ao ver, ano após ano, eleição após eleição, governo após governo, que as reformas política, tributária, trabalhista, agrária, previdenciária, entre outras, nunca saem do papel.

Medo eu tenho da polarização imbecil na sociedade brasileira, onde se trata política como futebol, onde o "nós contra eles" vale mais do que as informações corretas. Onde narrativas valem mais do que a realidade.

Medo eu tenho de ver ideologias fajutas defendidas com argumentos baseados apenas em "achismos", contra fatos históricos e/ou científicos.

Medo eu tenho de submeter crianças a escolas públicas quebradas, sem condições de aprendizado pleno. Medo eu tenho de escolas onde alunos e professores são agredidos. Medo eu tenho de escolas que expõem alunos a situações controversas (muitas vezes sem conhecimento dos pais). Medo eu tenho de professores que não mais ensinam, mas fazem militância. Medo eu tenho de universidades em que o pensamento crítico é deixado de lado.

Medo eu tenho da bestialização a que somos submetidos, através de músicas, novelas, reality shows e tantos outros tipos de baixarias, onde a libido e a libertinagem falam sempre mais alto (em um país onde a sexualidade já é exacerbada por natureza).

Medo de ditadura? Sim, eu também tenho. O futuro é incerto. Só o tempo dirá se este medo tem fundamento.

Porém, entre o risco do incerto e a constatação (comprovada matematicamente, em muitos casos) de que tudo o que escrevi nos parágrafos anteriores só se agravaria, é fácil perceber porque a maioria escolheu o risco, sem medo.