quinta-feira, 1 de julho de 2021

Didi Volta para o Futuro: 30 anos

É hora de celebrar os trinta anos de uma memorável obra nacional.
 

No início da década de 1990, a grande coqueluche no ramo das HQs no Brasil eram as graphic novels, publicações de mais apuro gráfico, com dimensões físicas maiores, geralmente com temáticas mais adultas. Também neste período, o gibi "As Aventuras dos Trapalhões" fazia sucesso, com tramas em que o quarteto satirizava filmes, séries e personagens célebres da cultura pop.

Para aproveitar a onda e comemorar os 25 anos dos Trapalhões, em julho de 1991, a editora Abril lançou uma HQ antológica. Combinando o formato das HQs de luxo com a pegada dos gibis do quarteto atrapalhado, surgiu a idéia de parodiar uma das mais emblemáticas trilogias do cinema. Assim teve gênese a "Grafic Trapa". E eis que o mundo viu "Didi Volta para o Futuro".

O gibi de 52 páginas foi produzido por uma equipe de respeito. Teve argumento de Marcelo Cassaro, arte de Watson Portela e Gustavo Machado. João Anselmo Menezes cuidou da arte-final e Napoleão Figueiredo se encarregou das cores, enquanto Edde Wagner assumiu como letrista. Todos sob a batuta do editor Primaggio Mantovi. A bela arte de capa ficou a cargo de Gustavo Machado, com arte-final de Napoleão Figueiredo.

A revista tinha preço de capa de Cr$ 800. Se fiz os cálculos corretamente, seria o equivalente a R$ 0,0002909091 (você não leu errado). Ou, se errei os cálculos, talvez fosse R$ 2,90. De qualquer forma, um belo gibi, com acabamento diferenciado, por menos de UM dinheiro (ou três). E tem gente que ainda insiste em não entender a diferença entre PREÇO e VALOR.

De volta à pauta, A trama adapta os filmes e, assim, é dividida em três partes.  


Na primeira, somos apresentados a Didi Mocófly, um estudante de Rio Valley, que se envolve com as malucas invenções do cientista Zac Brown. Este criou uma máquina do tempo em um carro peculiar, através do uso de um capacete de fluxo. O item foi surrupiado do herói Jaspião, que retorna furioso para reavê-lo.

Ao tentar escapar do personagem nipônico, Didi vai parar no passado, onde esbarra no valentão Dedé Bife. Com a ajuda do Zac Brown do passado, Didi precisa encontrar um novo capacete de fluxo, já que o outro estragou. Para tanto, participa de um baile à fantasia, onde, uma vez mais, entrará em conflito com Dedé, o único no evento com um capacete.

A segunda parte leva Didi e Zac ao futuro, onde se envolvem em confusão com Dedé Bife e seu neto. Os heróis precisam voltar ao passado para recuperar um jornal do futuro. Adivinhe onde o jornal foi parar: com Dedé Bife, que o usa como forro em seu capacete, para o baile á fantasia. O jornal lhe foi repassado por Mussum, que trabalhava como lixeiro (e um dia será o prefeito de Rio Valley). Agora Didi e Zac precisam recuperar o item, ao mesmo tempo em que devem evitar suas versões do passado. Após diversos percalços, tudo se resolve, mas, por acidente, Zac vai parar no velho oeste.


A terceira parte mostra Didi rumando ao velho oeste, onde encontra Zac. Ambos precisam escapar do pistoleiro Dedé Dalton Bife, antepassado do valentão que já conhecemos. A aventura se encerra com os dois heróis de volta ao presente. Ou seria o passado? Ou o futuro?


Uma trama repleta de citações e referências a personagens e situações da cultura pop, bem como do universo trapalhanesco e da cultura brasileira em geral. O baile à fantasia é um show de referências à parte. Só faltou uma maior participação de Mussum. Um gibi descompromissado e divertido, que rende uma leitura agradável. Em tempos atuais, há uma série de HQs da Turma da Mônica que faz paródias de filmes, série e personagens. E mais alguns com personagens de Walt Disney. Mas nenhum é tão memorável quanto este dos Trapalhões.


É triste observar que esta antológica obra não recebeu qualquer atenção em seu aniversário de três décadas. Em países que valorizam sua cultura (seja ela erudita ou popular), este gibi teria sido enaltecido, republicado, revisitado. Não aconteceu (e ouso afirmar que sou o único a produzir um texto nas interwebz para fazer menção a este aniversário). Infelizmente, é assim que tratamos nossa própria cultura. Não foi o primeiro, nem será o último (des)caso.

Enfim, fica aqui a homenagem aos Trapalhões e a uma de suas mais divertidas aventuras em formato impresso. Agora dá licença, vou buscar um capacete de fluxo e viajar ao futuro, para ver se "Didi Volta para o Futuro" terá mais atenção e carinho em vindouros tempos. 

Mantenho minha edição em ótimo estado.

Aguarde e confie.