sexta-feira, 19 de julho de 2019

Obviedades sobre o fumo

Albert Einstein certa vez teria dito: "somente duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana... e não estou tão certo sobre o universo".

Vivemos no futuro, cercados de todo tipo de tecnologia, com acesso quase irrestrito a qualquer informação. Cada pessoa hoje tem no seu bolso um dispositivo com conexão à internet e maior poder computacional do que os equipamentos que levaram o homem à Lua. E ainda assim, parece que ficamos cada vez mais ignorantes, a defender todo tipo de imbecilidade, mesmo contra fatos científicos e acontecimentos históricos, contra a lógica e o bom senso.

É o caso dos defensores do fumo.


Assusta perceber que ainda há pessoas que, por ignorância ou pura má fé mesmo, ainda acreditam e/ou defendem que o fumo (em especial o cigarro) não causa graves danos à saúde, conforme as inúmeras campanhas de conscientização têm afirmado ao longo das décadas.

De acordo com estudos e pesquisas realizados pela universidade estadunidense Johns Hopkins, NOVENTA por cento dos casos de câncer de pulmão têm sua ocorrência atribuída ao fumo. Não é uma doença "exclusiva de fumantes". Não-fumantes também podem ser acometidos, no chamado "fumo passivo", quando expostos por longo período à fumaça do cigarro (pense em crianças dentro de veículos fechados enquanto seus pais fumam, durante longas viagens).


Para quem não em fluência no idioma bretão, eis a tradução:
  • Câncer de pulmão é o segundo tipo de câncer mais comum em homens e mulheres.
  • O fumo é a principal causa de câncer de pulmão. Até 90% das mortes por câncer de pulmão estão associadas ao fumo.
  • Idosos tem maior tendência de desenvolver câncer de pulmão. De acordo com a Sociedade Americana do Câncer, cerca de 2 entre 3 pessoas diagnosticadas com câncer de pulmão têm 65 anos de idade ou mais.
Além disso, pessoas expostas a outras fumaças tóxicas também podem ter a doença (por exemplo, empregados de indústrias químicas sem equipamentos de proteção adequados). Este último caso está justamente nos 10% restantes.

O câncer de pulmão é um dos piores tipos, pois só se manifesta quando já se encontra em estágios avançados. Justamente por isso há esta impressão errônea de que as pessoas "morrem de velhice". Muitas vezes, a pessoa desenvolve a doença e vive anos sem saber (principalmente se não fizer exames de rotina). Então, quando a situação se agrava, quando os sintomas de fato surgem, o câncer já está avançado e pouco pode ser feito além de tratamentos para manter uma qualidade de vida razoável no pouco tempo que resta. Ou seja, o indivíduo poderia ter entre 15 e 20 anos de vida a mais do que realmente teve devido à doença. A quem tiver interesse, recomendo um estudo sobre estágios ou estadiamento de câncer (basta ter um pouco de disposição e usar aquele seu dispositivo portátil com maior poder computacional do que os equipamentos que levaram o homem à Lua).


E para quem argumenta que diversos empregos seriam perdidos se um dia acabassem com o setor do tabaco: quem planta fumo tem total condição de plantar qualquer outra coisa mais útil, como alimentos. Por que não o fazem? Porque plantar tabaco é mais barato e dá lucro fácil. Simples assim. E tudo ao custo da exploração de trabalhadores rurais (geralmente pessoas de baixa instrução e formação, que não têm maiores oportunidades de emprego e acabam se sujeitando a longas jornadas em meio a agentes nocivos). Uma simples investigação sobre a situação de trabalhadores em plantações de fumo no interior do RS revela u quadro triste e miserável.


Ainda mais triste é observar campanhas produzidas por sindicatos em prol do fumo, a empregar slogans como "Tabaco é qualidade de vida". Sim, é "qualidade" para quem vende. Para quem consome, está mais do que comprovado que não existe qualquer benefício (apenas o "barato" fugaz logo substituído pelo vício e pelos males oriundos do ato de fumar).

 
E para a sociedade como um todo, exceto pelo fator econômico do giro de capital, qual o benefício? Nenhum, pois todo possível lucro acaba revertido em ações para remediar os problemas de saúde de uma população cada vez mais viciada e doente (e ainda há quem defenda a liberação de outras drogas). E isto se ainda há lucro, já que o cigarro é a droga mais contrabandeada no país, com um indústria clandestina a dominar o mercado, superando o produto legalizado. "Legalize já", que tudo se resolve, não é mesmo?

 
Após todos os problemas em decorrência do fumo, fez-se necessária uma mudança de cultura. Há não mais que três décadas, cigarro era visto como um item que trazia valor a seu consumidor, uma questão de status, de virilidade para os homens, de charme para as mulheres. Foram necessárias muitas mortes por doenças ocasionadas pelo fumo para que a sociedade adotasse medidas para combater este mal. E ainda estamos longe do ideal. O mesmo vale para o álcool, tão difundido em nosso dia-a-dia. Uma mudança de cultura neste caso? Diminuir a quantidade de propagandas de bebidas alcoólicas nos intervalos comerciais dos canais de televisão. Já seria um bom começo.

Chega a ser patético ter que tratar de obviedades. Mas como diria um sábio ex-colega: "o óbvio nunca é óbvio". Mesmo em pleno século XXI, quando deveríamos já ter alcançado um maior nível de informação e sabedoria, ainda há gente estúpida que acredita em Terra plana, ideologias fajutas e outros contos da carochinha. Einstein não ficaria surpreso. Mas certamente estaria muito, mas muito envergonhado.