Estava demorando.
Mas agora vai. Vou discorrer sobre Pantanal, novela que está obtendo relativo sucesso em sua reapresentação no SBT.
Mas afinal, o que esta novela tem de tão interessante assim?
São as cenas de nudez, certo?
Não exatamente, amiguinhos. As cenas de nudez estão lá, chamam a atenção, certamente. Mas ao contrário do que se imagina, não são gratuitas, embora tenham servido para "atiçar" a curiosidade do público (especialmente do público masculino).
O que captura o espectador em "Pantanal" são as belas imagens da natureza, mostradas à exaustão entre o desenvolvimento da trama, que narra a saga da família Leôncio, desde os anos 1940. O "universo pantaneiro" surge em tela de forma real, sem maquiagens ou truques de câmera, sem cenários bonitinhos. Quase tudo ali é filmado em locação.
Além disso, toda uma mensagem ecológica serve como pano de fundo. O misticismo também presente (principalmente na figura do "Velho do Rio") contribui para apresentar elementos atrativos diversificados.
A trama em si não apresenta nada de original. Mas apoiada por um elenco de extrema competência (que faz os personagens realmente ganharem vida), a estória flui com naturalidade, deixando o público imerso em seu contexto sertanejo e mítico.
Vale lembrar que muitos atores, hoje "globais" e respeitados, surgiram e/ou se firmaram com "Pantanal": Marcos Palmeira, Marcos Winter, Jussara Freire, Paulo Gorgulho, Ingra Liberato, Cristiana Oliveira, Ângelo Antônio, Giovana Gold. Outros surpreenderam, como os músicos Sérgio Reis e Almir Sater. E outros "veteranos" simplesmente deram show: Cláudio Marzo, Antônio Petrin, Ângela Leal, Cássia Kiss, Nathália Timberg.
Na época de seu lançamento, foi um sucesso estrondoso, que fez a Rede Globo "rever seus conceitos". Interessante notar que em seguida, a Globo produziu novelas como "Renascer" e "Rei do Gado", ambas de temática similar.
E agora, com sua reapresentação, mais uma vez "Pantanal" está dando o que falar. Em uma jogada audaciosa, o SBT está exibindo a novela sem intervalos comerciais. Tudo bem, não é tão audaciosa assim, pois o real motivo de não fazer intervalos é para não pagar certos direitos de exibição vinculados ao autor da novela (mas este é um assunto complicado que não diz muito respeito agora). A verdade é que "Pantanal" está dominando o horário em que é exibida.
Diferente das novelas atuais (que praticamente ensinam e promovem comportamentos promíscuos ou tentam "catequizar" o público mostrando tudo muito certinho, além de personagens interpretados sem vontade e densidade), "Pantanal" apresenta belas atuações, com diversos atores se destacando por suas atuações "cruas", sem firulas, expondo os personagens com talento e entrega.
Talvez esta seja a melhor qualidade da novela: sua "crueza", tanto na trama como na forma como foi produzida. Isto criou uma aura de realidade e, ao mesmo tempo, uma certa inocência, que só a tornou mais atraente. Alguns atores, como Cláudio Marzo e Paulo Gorgulho, interpretam mais de um personagem, o que deixou a "saga da família Leôncio" mais consistente.
Esta novela foi um marco para a saudosa Rede Manchete. Mudou a maneira pela qual os brasileiros viam o Brasil. Não, não estou exagerando. Após esta novela, as belezas naturais de nosso país passaram a ser mais admiradas e respeitadas, principalmente pelo governo, sempre tão ineficiente quando se trata de preservar nossas riquezas naturais. Crítica esta que foi devidamente feita na própria novela.
Enfim, "Pantanal" mostrou que uma novela pode ser feita sem o maior aparato tecnológico, mas mesmo assim, conseguindo criar uma atmosfera envolvente e interessante, que torna o ato de assistir a uma novela prazeroso.
Para quem tiver interesse e quiser acompanhar a novela, deixo aqui um breve resumo do que foi apresentado até o momento:
P.S.: Só para constar, não sou noveleiro. As duas novelas que realmente assisti na minha vida foram "Roque Santeiro" e "Pantanal".