segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O importante é competir

Sim, a velha máxima do esporte continua mais viva do que nunca. Certamente a maior verdade no que diz respeito a qualquer prática esportiva.

O importante é competir e, além disso, fazer o melhor que puder, "fazer bonito"...

Não foi exatamente o que vimos dos atletas brasileiros nestes Jogos Olímpicos de 2008, não é mesmo?


Evitei ao máximo tecer comentários sobre a Olimpíada de Pequim antes que esta terminasse, por duas razões:

- Não queria comentar qualquer coisa "no calor do momento", correndo o risco de ser injusto, elogiando ou criticando além da conta, para mais ou para menos.

- No fundo, estava torcendo pelos atletas do nosso país, embora eu não tenha feito parte da "Torcida Coruja, que é torcida de fé, passa a noite acordada, depois dorme em pé". E por estar torcendo por vários atletas, não seria de todo imparcial.

Mas enfim, vamos lá. Os Jogos acabaram, sem muitas surpresas. China e Estados Unidos liderando, outros países recorrentes logo em seguida, e o Brasil, il, il fazendo a pataquada de sempre e ficando lá depois da vigésima colocação, mais exatamente na 23ª posição.

Vale mencionar a imbecilidade da imprensa americana, que passou a apresentar o quadro de medalhas de acordo com o total de medalhas obtidas, ao invés da forma adotada nos Jogos Olímpicos: a quantidade de medalhas de ouro, prata e bronze, nesta ordem. Se o importante é competir, o povinho americano besta precisa realmente aprender a "saber perder", mesmo em uma bobagem insignificante como um quadro de medalhas em Olimpíadas.

E o que acontece com o Brasil em Olimpíadas?
Não sabemos vencer?
Não estamos preparados?
Somos incompetentes?

Tudo isso e mais um pouco, se querem saber a minha opinião.


Não, não sabemos vencer.
Ou como podemos explicar os fracassos de João Derly e Diego Hypólito, por exemplo? Foram eliminados em esportes nos quais dominaram todas as competições anteriores, eram favoritos, badalados. Mas simplesmente não souberam administrar esta situação. Perderam para si mesmos, resumindo.

Não estamos preparados mesmo.
É triste constatar que muitos dos nossos atletas olímpicos estão anos-luz atrás de nossos adversários, em preparação, tanto física quanto psicológica. Resta amargar colocações dignas de Rubinho Barrichelo, sempre em sexto, sétimo, oitavo colocado, nas mais diversas modalidades.

Somos mais do que incompetentes.
Mas aqui a crítica não é sobre os atletas, mas sobre dirigentes e órgãos responsáveis pelas diversas modalidades olímpicas no país, sem esquecer os mais incompetentes de todos: os governantes. De que adianta um atleta se dedicar ao máximo, abdicar de sua vida para se dedicar a um "projeto olímpico", se não recebe apoio, incentivo, reconhecimento, por parte do governo (seja este qual for: federal, estadual, municipal)? Na China, apenas para citar um exemplo, toda criança pratica um esporte olímpico no colégio. É uma atividade curricular, assim como as aulas de Matemática ou Geografia. Não importa qual esporte seja o escolhido, esta criança terá totais condições para a prática da modalidade. Há estrutura pronta para isso. E isso acontece há muito tempo, não somente agora, na época da Olimpíada, como se poderia pensar. Aqui no Brasil? Quando muito, algumas aulas de Educação Física apresentam algum fundamento de esportes diferentes de futebol e vôlei. De resto, junta-se a gurizada em um campo de futebol, 40 para cada lado, chuta-se uma bola para cima e o resto é festa. Falta interesse. Falta instigar este interesse, transformar este país em algo mais além da "pátria de chuteiras".

E já que falamos de futebol...
Nem precisaria comentar o papelão da seleção brasileira de futebol masculino. Seleção esta que foi reunida sem muito critério, que carecia de entrosamento e atitude. Atitude dos jogadores mesmo. Alguns não vieram, por determinações de seus clubes. E simplesmente aceitaram a imposição, sem contestar. Vergonhoso. Um time que tinha como estrela máxima o agora semi-decadente Ronaldinho Gaúcho. E que, pelo visto, cansou de jogar bola. Seria coincidência o fato dele ter sido convocado na mesma época em que lançou uma marca de produtos com seu nome na China? Claro que não. Apenas negócios. O que se viu foi um time medíocre e burocrático, que perdeu mais uma chance de "subir no lugar mais alto do pódio".

E continuando, quando o problema não era conosco, o "azar" entrava em cena. Ou o que mais pode ser dito do episódio de "Fabiana Murer e os Caçadores da Vara Perdida"? Há quem diga que foi uma conspiração. Até pode ser, nunca saberemos ao certo. Restou o choro da atleta.

E se choro fosse uma modalidade olímpica, certamente o Brasil seria o recordista em medalhas neste quesito. Ninguém chorou mais do que os atletas brasileiros. Parece que o modus operandi é justamente este: treinar, treinar, acertar, classificar, competir, errar, chorar, chorar...

Foi o que mais vimos. Atletas brasileiros com grandes chances, simplesmente cometendo erros, sendo desclassificados e desabando em choros diante das câmeras. Mais do que saber ganhar e administrar favoritismo, temos que saber perder e aprender com as derrotas, para evoluir e, em uma futura oportunidade, definitivamente realizar o objetivo. Mas não foi o que aconteceu com os atletas da ginástica olímpica, por exemplo. Vimos atletas talentosos e esforçados fracassando quando poderiam vencer. E chorando, chorando, chorando...

Tudo bem, a ginástica brasileira conseguiu a melhor colocação na história das Olimpíadas, mas a meu ver, isto simplesmente não é suficiente. Principalmente quando avaliamos o talento e esforço destes atletas. Com certeza eles conseguem mais do que isso.

Nem tudo foi ruim. A equipe feminina de vôlei confirmou sua superioridade, vencendo uma final emocionante contra os Estados Unidos. Pelo menos nesta modalidade, o Brasil colocou as americanas no chão, literalmente.


Maurren Maggi conquistou a medalha de ouro. E chorou. Foi uma vitória incontestável, prêmio ao seu esforço e dedicação, após uma fase desfavorável em sua vida.


A vitória de César Cielo na natação (50m), que literalmente "lavou nossa alma". Ali vimos um choro cabível, que nos emociona e até faz chorar junto. Foi um choro de desabafo. Desabafo maior quando percebemos que Cielo nunca teve apoio algum, conseguiu tudo sozinho, com ajuda dos pais, que deram condições para que ele fosse morar e treinar nos Estados Unidos. Se fosse depender somente de apoio e recursos do governo do Brasil, il, il, teria ele se classificado para as finais que disputou?


E eis outra questão que se apresenta. O Brasil, "um país de todos", continua sendo "um país de tolos". Tolos por acreditar que o esporte neste país é levado a sério, independente da modalidade. Ingênuos somos, se acreditamos que o governo realmente incentiva e dá condições para que um atleta busque seu objetivo. Em esportes não tão populares então, como esgrima, hipismo, vela, somente quem realmente tem condições financeiras pode competir seriamente.

Restam os atletas que precisam ultrapassar os obstáculos sozinhos, buscando brilhar e mesmo assim não conseguindo nada mais do que competir com determinação. Atletas como Jadel Gregório (que empolga com suas participações, mas acaba não concretizando seu objetivo olímpico) ou os judocas e lutadores de taekwondo, além do boxe brasileiro, sempre tão marginalizado.

E além de tudo isso, ainda somos brindados com o ufanismo da imprensa brasileira. Sim, a imprensa é uma grande culpada também. O exemplo da "Torcida Coruja" já reflete isto: uma vinheta imbecil e "metida a engraçadinha", que conclama os brasileiros (e os gaúchos, em especial) a madrugarem para torcer por qualquer atleta brasileiro que lá esteja, independente se for preciso trabalhar no outro dia, afinal "passamos a noite acordado, depois dormimos em pé".

A cobertura das emissoras de rádio e TV foi ridícula. Sim, os recursos técnicos foram excelentes, as transmissões foram muitas e muito boas. Não se perdeu nenhum momento relevante. Mas a questão aqui é relativa a conteúdo. E a idéia que se passou durante as transmissões era de que um sétimo ou oitavo lugar em uma prova com oito atletas era uma excelente marca. Por favor...

E alguns narradores, comentaristas e palpiteiros de praxe simplesmente se superaram desta vez. E vou começar pelo pior de todos: ele mesmo, Galvão Bueno (ei, Galvão, vai tomar no c*#!). Como se não bastasse a postura ridícula que este cidadão assume a cada transmissão, não prestou atenção a um fato importantíssimo: aqui no Brasil, estávamos acompanhando a Olimpíada de madrugada ou de manhã, horários simplesmente incondizentes com aquela gritaria imbecilóide e xarope que ele faz. Muito ao contrário, os ex-atletas e comentaristas Tande e Robson Caetano estavam atentos a isto, mostrando, além de coerência em suas opiniões, elegância ao tecer seus comentários.

Outros simplesmente tentaram "embutir" mais emoção nas transmissões, mas passaram da conta, como Álvaro José, sempre correto em suas narrações, mas fazendo escândalo a cada recorde batido por Michael Phelps (com gritarias que lembraram o já citado Galvão Bueno).

Sem contar os jornalistas metidos a engraçadinhos, com suas matérias igualmente pseudo-engraçadinhas (honestamente, está na hora de mudar ou... mudar de vez...): Regis Roesing, Eduarda Streb, Tadeu Schimdt, Tino Marcos (tudo bem, este último estava apenas apresentando, mas é da mesma escola). Tentam ser engraçados e bacanas, mas ficam a cada dia mais ridículos, colocando os atletas entrevistados em situações muitas vezes desnecessárias, apenas para fazer gracinha e "ser diferente".

E sempre enaltecendo os "feitos" dos nossos atletas, a cada décimo lugar conquistado...

Temos que valorizar o que é nosso? Com certeza que temos. Mas devemos também ser coerentes quando estamos vendo o que acontece, mesmo quando algum narrador, repórter ou comentarista bobalhão insiste em enaltecer algo que não existe.

De resto, algumas medalhas de prata (futebol feminino e vôlei masculino, duas modalidades em que o Brasil tinha enormes chances de obter o ouro) e outras tantas de bronze, algumas realmente premiando o esforço de atletas dedicados mas não tão badalados (como o judoca Tiago Camilo, por exemplo), e outras simplesmente servindo como prêmio de consolação a ilustres fracassados (os "meninos" do futebol).

No fim, o Brasil Varonil ocupou a 23ª posição, o que serve de amostra do quanto uma real política de incentivo ao esporte é necessária a qualquer país, principalmente quando observamos o que é feito nos países que ocuparam as primeiras colocações no quadro de medalhas (mas pelos menos ficamos na frente do Cazaquistão).

Ah, mas isso é assim mesmo, nada vai mudar. Será que não?

A principal mudança já pode começar. Nas próximas eleições, votar em gente que realmente tem algo a oferecer, não somente ao esporte, mas à sociedade e à nação como um todo. Deixar de lado os políticos de sempre, os "velhos caciques". Mas ao mesmo tempo, não votar em oportunistas e em gente que só quer aparecer (já apresentei diversos exemplos neste blog). E se no fim das contas não sobrar ninguém em quem votar, não ter vergonha de votar em branco ou anular o voto.

Quem sabe assim, teremos no esporte e na política gente que sabe vencer, está preparada e não é incompetente.