Um popular ninja, em um jogo de Mega Drive não lançado, mas que de alguma forma chegou às minhas mãos nos tempos áureos.
Quando discorri sobre o protótipo do jogo do Jovem Indiana Jones para Mega Drive, fiz referência a outro título inacabado com o qual tive contato, nos idos tempos. Uma obra protagonizada por Ryu Hayabusa, um ninja que arrebatou corações, mentes, joysticks e uma legião de fãs com uma trilogia de jogos para o NES. (embora a série tenha começado com um jogo para fliperamas).
Do final dos anos 1980 a meados
da década de 1990, Ninja Gaiden recebeu produções para diversos
consoles, com maior ou menor repercussão. O glorioso Mega Drive não poderia
ficar de fora. E, assim, em 1992, a mídia especializada passou a divulgar informações
e imagens do jogo para o console de 16 bits da Sega. Diferente da trilogia
clássica do NES, que consistia de jogos de ação em plataformas, a versão para
Mega apostava no estilo beat 'em up (o popular "briga de
rua"), mais próximo do original dos fliperamas. Entretanto, por qualquer razão, a produção não foi adiante, ficou apenas no protótipo. O título nunca foi lançado oficialmente.
Provavelmente, meu primeiro contato com a obra se deu nas páginas da revista SuperGame #22. A publicação não fazia qualquer menção ao estado do jogo, ao contrário, o noticiava como se tivesse sido lançado no Japão.
Sem saber dos detalhes sobre o desenvolvimento, certa feita encontrei o cartucho em uma das locadoras que eu
freqüentava. E assim o escolhi, junto com outros dois títulos, para
proporcionar a jogatina daquele fim-de-semana.
Apesar dos gráficos corretos e da trilha sonora com algumas boas composições, o jogo peca no quesito mais importante: justamente por estar inacabado, a jogabilidade é comprometida. A movimentação do personagem é estranha: ao tentar andar em linha reta, ele sempre acaba se deslocando para a parte inferior da tela. Assim, praticamente a todo momento é preciso apertar o botão direcional para cima, a fim de levar o personagem para o centro. No mínimo, inconveniente. Há uma boa variedade de inimigos, mas estes não oferecem grande desafio e, em pouco tempo, o jogo se torna repetitivo. Mesmos os "chefões" não representam grande ameaça.
Como é de praxe nos jogos da franquia, há cutscenes entre os estágios, que desenvolvem a trama. Algumas delas, entretanto, não são mostradas do início ao fim. Em outras, há problemas nos textos, desde erros de digitação ao mais puro "engrish". Isto tudo mostra o quanto o jogo ainda precisava ser refinado para um lançamento.
Além disso, há diversos cenários em
que o personagem ou os inimigos podem ficar trancados, por diversas circunstâncias
(se matar um inimigo no momento errado ou se pular em uma parte do cenário com
a tela em movimento, por exemplo). Ainda assim, é possível seguir adiante, com
combinações de comandos, tanto para reiniciar um nível quanto para avançar ao
seguinte.
Não lembro ao certo se cheguei a
finalizar o jogo, quando o aluguei. Mas lembro de empacar no cenário das
cachoeiras e, mais adiante, no nível que se passa em um telhado (em que todos os personagens escorregam para baixo constantemente). O jogo travava
nestas ocasiões por quaisquer motivos e era preciso reiniciar.
Eis que viajamos ao século XXI e, nestes tempos recentes e modernos, encontrei um cartucho da época à venda, por preço módico. Não me fiz de rogado e o adquiri. O item não tem etiqueta com imagens do jogo. No lugar, uma etiqueta (provavelmente de locadora), com um código de cadastro, o título da obra e o sistema ao qual se destina. No verso, logotipo da Sega e informações de cuidados para utilização.
Segue um vídeo com gameplay
completo (incluindo alguns dos defeitos mencionados neste texto):
E mais uma pérola agora faz parte de minha coleção. Mais uma produção inacabada. Outra que sempre aguçou minha curiosidade. Como estes jogos inacabados eram disponibilizados em locadoras nos tempos áureos?