Um clássico personagem de desenhos animados. Um cartucho piratex para um glorioso console de videogame. E uma estupenda galhofa. É o que temos neste texto.
Já dissertei, aqui no blog,
sobre todos os cartuchos de Mega Drive que compõem minha singela coleção. E não
faz muito relatei minhas desventuras com um cartucho piratex adquirido, que eu
esperava ser do jogo do Homem-Aranha, mas no fim acabou provando que todo dia é
um "7 in 1". Após o ocorrido, decidi que este não seria o último item a
entrar para a coleção e, portanto, chutei o balde. O escolhido foi um rei da
galhofa, seja ela intencional ou não.
Antes, um pouco de História. O Pica-Pau (ou Woody Woodpecker, no original) é uma criação de Walter Lantz, datada de 1940. Um carismático personagem, conhecido no mundo todo através de desenhos animados, histórias em quadrinhos, brinquedos e todo tipo de produto relacionado.
Um destes produtos tem origem singular. Em 1996, a Tec Toy, com as devidas licenças, produziu por conta própria e lançou exclusivamente no Brasil um jogo do Pica-Pau para Mega Drive e Master System: "Férias Frustradas do Pica-Pau". Durante uma viagem de férias, os amigos do pássaro amalucado são seqüestrados pelo Zeca Urubu e será preciso resgatá-los. No meio do caminho, conhecidos antagonistas surgem para dificultar a missão, como Leôncio e Zé Jacaré.
Um jogo no estilo consagrado de ação em plataformas, com estágios que retratam florestas, geleiras e castelos, entre outros. A aventura tem os textos totalmente em português. Os gráficos e sons são simples, a trilha sonora é genérica (mas a música-tema do desenho está presente) e a jogabilidade apresenta problemas, o que pode frustrar o jogador mais exigente. Apesar de o resultado ficar aquém do esperado, são elogiáveis a intenção e o esforço da Tec Toy.
Pois bem, apresentado o contexto histórico, voltemos ao objeto deste texto. Como afirmei, decidi que o cartucho piratex de sete jogos não seria o último item de minha coleção. Eu poderia tentar adquirir algum produto original da Sega ou da Tec Toy. Quem sabe, justamente o jogo do Pica-Pau lançado pela empresa brasileira (e, de preferência, completo)?
Porém, a tosquice falou mais alto e resolvi: a aquisição seria feita com o cartucho piratex que oferece uma das galhofas involuntárias mais toscas e engraçadas. Eis então "Férivas Frustradas do Pica-Pau". Sim, "Férivas". O pirateiro (provavelmente da China ou de Taiwan) cometeu um deslize, para a alegria de quem aprecia a gafe alheia.
A capa mostra uma ilustração do personagem com vários chapéus. O título "Férivas Frustradas do Pica-Pau" e abaixo uma expressão em inglês, Red Riding Hoodlum (que na verdade é o título de um dos desenhos do personagem, de 1957, chamado no Brasil de "Chapeuzinho Diferente"). O verso mostra diversas telas do jogo, sem qualquer outra informação. O encarte ainda tem, na frente e na lateral, etiquetas de identificação, a mostrar que pertenceu ao acervo de uma locadora.
O cartucho eleva a galhofa. A
etiqueta mostra a mesma ilustração da capa, mas o título é escrito como
"Férivas Prustradas do Pica-Pau". Mais tosco impossível (mas sejamos
francos: a palavra "Frustradas" no logotipo do jogo facilita o
equívoco, já que o "F" fica a parecer um "P" mesmo). Na
parte superior, apenas a palavra "Férivas" continua. Não há qualquer
informação no verso.
O jogo em si é tal qual a versão original lançada pela Tec Toy, sem quaisquer alterações. Um detalhe curioso desta obra: ao visualizar seu código binário com qualquer editor hexadecimal, é possível encontrar o nome "Asdrubal" entre as informações de cabeçalho. Segundo um dos programadores, era um nome temporário para manter segredo durante a produção, bem como uma referência a "Asdrúbal Trouxe o Trombone", grupo teatral brasileiro de grande sucesso nos anos 1980.
E está apresentada a aquisição
mais recente. Espero não ser a última. Do contrário, ao menos a
coleção se encerra com galhofa e, ao mesmo tempo, como uma espécie de
"homenagem" a um peculiar produto nacional.
