sábado, 8 de dezembro de 2018

Expressões viciadas

Vou discorrer sobre frases de nosso idioma comumente usadas, mas que geralmente são o oposto do que querem significar ou simplesmente não fazem sentido. São expressões corriqueiras, utilizadas inclusive nos meios de comunicação, até mesmo por jornalistas formados, o que agrava ainda mais a situação.

Portanto, eis algumas delas.

"Baseado em fatos reais".
Um clássico da redundância. Todo fato é real. Ou seja, para ser fato, tem que ser calcado em algum dado da realidade, senão, não é fato. É mais correto utilizar "baseado em eventos reais" ou "baseado em uma história real".

"Volto a repetir".
Outro clássico da redundância. Muito utilizado para expressar uma idéia de gravidade em uma situação. Algo como "Repito novamente". Se você repete, não há razão para cair em redundância: o "novamente" já está inserido no "Repito" (ou será que existe algum tipo de repetição inédita?). Mas se quiser continuar no erro, chute o balde, use "Volto a repetir novamente". Entretanto, se quiser usar uma forma correta, use apenas "Repito" ou então "Informo novamente".

"Dois pesos e duas medidas".
Se você tem dois pesos e duas medidas, então a mensuração é justa, já que cada peso tem sua medida própria. A frase correta é "Um peso e duas medidas", para indicar um situação de mensuração injusta. Ou seja, você tem apenas um item, mas ele é tratado de duas formas diferentes, a fim de atender determinada situação, de acordo com a vontade de quem faz uma narrativa, por exemplo.

"Não leve tudo em ponto de faca".
Esta nem precisaria explicação. O correto é "não leve tudo em ponta de faca", para indicar uma situação de extremismo nas ações de um indivíduo. A expressão faz alusão justamente à ponta de uma faca, como quando o indivíduo ameaça alguém apontando a arma, para fazer valer sua vontade.

"Eu não sei nada".
Outro clássico. O duplo negativo. Similar a "Ele não é ninguém". Ora, se ele "não é ninguém", então "ele é alguém". Se "não sei nada", então quer dizer que "sei de algo". Portanto, use as formas corretas. Se quiser expressar uma negatividade, o mais certo seria: "Eu sei nada" e "Ele é ninguém".

"Risco de vida".
Expressão muito utilizada, principalmente em noticiários. Mas a verdade é que ninguém corre "risco de vida", uma vez que já estamos todos vivos. O correto é "risco de morte", para tratar de uma situação grave, que possa levar ao fim de uma vida.

Sem mencionar outras afrontas ao nosso idioma tão comuns, seja na forma escrita ou falada. A mais triste é a má utilização do verbo "Estar". É frustrante ver jornalistas e outros profissionais de rádio e televisão (supostamente formados e estudados, que deveriam ter um maior zelo pelo idioma no momento de divulgar informações) falando "eu tô" ou "eles tavam" e similares. O coloquialismo tem sido usado para aproximar a mídia do público, mas diminui a força do veículo (em alguns casos, pode até colocar em cheque sua credibilidade). Ou você realmente leva a sério profissionais que usam de gírias e vícios de linguagem quando se manifestam?

Enfim, cabe a cada um de nós utilizar nossa querida Língua Portuguesa de maneira mais correta, principalmente na forma escrita. Também vale atentar para a forma falada, principalmente se o objetivo for repassar informação ao público. Noticiar um fato não é o mesmo que conversa de bar. É preciso certa formalidade, sim.

Estude, aprenda, aplique, ensine. Nosso idioma é belo demais para ser tratado de forma desleixada e/ou equivocada.