segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Emulação a perigo?

Diversos websites sobre emulação estão recebendo ameaças de processos de algumas grandes desenvolvedoras de videogames (leia-se a Big N, principalmente), ao ponto de praticamente encerrarem suas atividades.

Estaria a emulação a perigo?

As investidas são contra aquelas páginas que mantêm inúmeros aplicativos para download (entre emuladores e os populares arquivos ROM, ou como diria aquele seu amigo "sabe-tudo": as "Rooms"). Em resumo, até pouco tempo atrás, estas empresas não se importavam com ROMs, emulação e preservação de software, mas agora, como é possível fazer um dinheirinho maroto vendendo dispositivos "Mini" (que por sinal, não passam de máquinas de emulação), decidem se colocar contra uma comunidade estabelecida há duas décadas e engajada a preservar todo precioso bit de softwares já produzidos, não só nas versões em que foram comercializados, mas também em forma de protótipos e versões alternativas.



Para o público em geral, sem conhecimento, emulação nada mais é do que um modo de jogar inúmeros jogos de graça através do PC (ou de outros videogames, de dispositivos portáteis ou até mesmo do telefone celular). Entretanto, é justamente o aspecto de preservação de software que torna a emulação (principalmente de sistemas antigos) algo muito diferente da simples pirataria ou do uso indevido de propriedade intelectual. Afinal de contas, na maioria dos casos, estamos tratando de programas e jogos há muito abandonados por seus realizadores.

Comecei a me interessar pelo assunto em meados de 1997, quando um amigo me apresentou a um emulador de Mega Drive, o saudoso KGen (cuja versão seguinte, KGen98, impulsionou o cenário da emulação, ao menos no Brasil). Foi um momento singular: ver Sonic the Hedgehog rodando em um PC, tal qual em um Mega Drive original.

 
A partir de então, descobri que outros sistemas que muito estimava também poderiam ser emulados. E assim, pude relembrar os bons tempos de jogatinas com o MAME, o mais completo emulador de jogos de fliperama (e que atualmente se destina a emular e preservar não só as máquinas arcade, mas todo tipo de sistema eletrônico, dos jogos de videogame, pinball e mini-games aos computadores. E até mesmo os softwares das famigeradas máquinas de jogos de cassino.


Repito: inúmeros jogos de fliperama, esquecidos e abandonados por seus realizadores, hoje podem ser apreciados em toda a sua glória. Há até alguns poucos casos de desenvolvedores que colocaram seus jogos em domínio público, por entenderem que, mais do que por um valor financeiro, tais obras agora deveriam ser disponibilizadas por seu valor histórico.

A emulação de computadores antigos também me chamou a atenção. E assim revivi os tempos áureos do MSX, do ZX Spectrum (o popular TK-90X), do Apple II (vulgo TK-2000, para os chegados). E até mesmo pude descobrir o Amiga, sistema ao qual não tive acesso em seu período original. E que atire a primeira pedra quem nunca utilizou o DOSBox para conseguir rodar aquele software de PC do final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Na verdade, muitos jogos antigos atualmente vendidos em websites como GOG e Steam rodam justamente a partir do DOSBox.


Sem os emuladores (e sem a comunidade de entusiastas da emulação), diversos softwares teriam se perdido, uma vez que as próprias empresas de desenvolvimento de sistemas e games nem sempre se preocuparam em preservar suas histórias e suas obras. Muitos sistemas foram emulados e muitos softwares preservados a partir de engenharia reversa, em iniciativas exaustivas de programadores e outros desenvolvedores, sem acesso aos códigos-fonte originais (até mesmo porque muitos destes foram perdidos). E o trabalho continua. Muita coisa continua sendo descoberta. E muita coisa continua sendo preservada. Além disso, há outras comunidades dedicadas somente à tradução de softwares para os mais diversos idiomas, gerando acesso universal. Por exemplo, jogos só lançados no Japão hoje podem ser apreciados no idioma inglês (ou até mesmo na nossa querida língua portuguesa) e assim por diante.

De volta à pauta inicial. Na verdade, já vi esta novela diversas vezes nos últimos vinte anos: uma página completa com emuladores e ROMs deixa de existir, mas outras surgem mais à frente. É lastimável quando um portal "arquivador" deixa de operar de forma plena, ainda mais quando se percebe que é por pura "picuinha" ou pura ganância de outras empresas. Mas, no fim das contas, sempre se sobressai a paixão pela emulação e pela preservação de obras clássicas (mesmo que de formas virtuais).

Viva a emulação!