Mais um filme de Star Wars.
Mais um filme assistido. Hora de discorrer sobre Han Solo: Uma História
Star Wars, mais nova empreitada na galáxia muito distante.
Desde já aviso: texto COM SPOILERS.
Desde já aviso: texto COM SPOILERS.
Desde que a Disney
adquiriu a Lucasfilm, sempre que escrevi sobre novos filmes da saga, um ponto
surgia de uma forma ou de outra: a saturação da franquia, o esgotamento da
fórmula que levaria ao desinteresse do público. Infelizmente, o filme-solo do
Han Solo parece apontar para o início desta previsão.
Não me entenda mal. Nos quesitos
técnicos, há pouco a criticar e muito a elogiar. Um espetáculo visual e sonoro,
como todo filme da franquia deve ser. A fotografia é passível de crítica, ao
adotar uma paleta dessaturada e escura, que em certos momentos pode dificultar
a visualização.
A obra mostra momentos marcantes
da vida de Han Solo: sua origem em Corellia, a passagem pela Academia
Imperial, seu início como contrabandista, os encontros com Chewbacca e Lando
Calrissian, a primeira viagem a bordo da Millennium Falcon. É um bom
filme, uma aventura até certo ponto despretensiosa (mas que ao mesmo tempo
busca alcançar o patamar épico da trilogia original) com algumas boas cenas de
ação e alguns diálogos e referências interessantes. Preste atenção nas palavras
"algumas" e "alguns". Infelizmente (e ao contrário de Rogue
One), a trama não se mantém cativante durante toda a projeção. Acaba sendo
irregular.
Ron Howard recebeu uma tarefa
ingrata. Assumir uma produção conturbada, com diversos problemas de bastidores
e entregar um filme coeso e um bom entretenimento. Conseguiu, mesmo que alguns
momentos ocorram de forma apressada. De qualquer forma, o resultado se mostra
aquém da alta expectativa que todo filme da franquia sempre terá.
Mesmo não sendo parecido com
Harrison Ford e deliberadamente não tentando imitar seus maneirismos, Alden
Ehrenreich fez um bom trabalho com a jovem versão do personagem. Suas escolhas
lembraram bastante Chris Pine como Capitão Kirk, no primeiro filme da nova iteração
de Star Trek, produzido em 2009.
Os demais integrantes do elenco
também apresentam boas atuações. Woody Harrelson é competente, embora Tobias
Beckett seja extremamente previsível. Donald Glover oferece um bom reflexo de
Billy Dee Williams, com um Lando sempre carismático, embora em certos momentos
pareça forçado e em outros se apresente até bastante ingênuo. Já a Qi'ra de
Emilia Clarke pouco tem a fazer exceto ser o interesse amoroso. Mesmo que toda
personagem feminina atualmente seja apresentada como "forte",
"independente" e "feminista", Qi'ra parece a antítese de
tudo isto, mostrada como uma indefesa no início e uma servente durante
o restante da projeção. Não fosse pela revelação ao final do filme sobre seu verdadeiro
"mestre" (ou seja, Qi'ra continua servindo a alguém), a personagem se
mostraria completamente desinteressante, apenas o (provável) primeiro amor do protagonista.
Um desapontamento: L3-37
e os discursos sobre igualdade e diversidade. Desnecessários, sem graça.
Infelizmente, a dróide não demonstrou o mesmo carisma de seus antecessores,
principalmente se compararmos com o humor de K-2SO. Ou seja, não adianta
empurrar agenda politicamente correta (mesmo que travestida de "humor de
dróide"). O público já está cansado de discursos enfadonhos.
O filme oferece citações diretas
a alguns personagens, como Aurra Sing e Bossk. E indiretas, como àquele querido
Hutt de Tatooine.
Muitos esperavam por uma aparição
de Boba Fett (e outros caçadores de recompensas conhecidos). Acho que foi um
acerto não incluir o lendário mandaloriano e manter a (pouca) aura de mistério
que ainda o envolve. Ainda assim, uma armadura mandaloriana pode ser vista nos
aposentos de Dryden Vos.
A controversa aparição de Darth
Maul pode causar confusão a quem só assistiu aos filmes. Mas
é um belo tributo a quem acompanhou as animações The Clone Wars e Rebels.
Entretanto, cria-se um problema, uma vez que o destino de Maul é conhecido para
quem assistiu a Rebels. Foi uma aparição gratuita, sem maiores fins? A
Lucasfilm pretende aproveitar o personagem em outros filmes? Tenha em mente que
as animações são canônicas, ou seja, o que acontece nas tramas animadas também
faz parte da história completa. Assim sendo, toda e qualquer
utilização de Maul precisa estar de acordo com os acontecimentos de Rebels.
Enfim, estes questionamentos são "cenas dos próximos capítulos". Ou
não. E de mais a mais, ao invés de Maul, acho que poderiam ter aproveitado a oportunidade para introduzir no novo cânone um popular personagem do antigo Universo Expandido: o Príncipe
Xizor.
Um ponto que gerou polêmica foi o
nome do personagem. Precisava explicar? Ao invés de ser o sobrenome dele,
ficamos sabendo que "Solo" é na verdade uma alcunha dada por um
oficial do Império. Desnecessário. Será que a partir de agora também teremos
explicações para os nomes de Bib FORTUNA, BOBA Fett, Capitão PANAKA e Rose
TICO, entre outros?
Alguns dos acontecimentos da
aventura diminuem o impacto das referências da trilogia original. Talvez fosse
melhor ter mantido o mistério sobre como Han ganhou a Millennium Falcon de
Lando em um jogo de Sabacc. A forma como Han e Chewie se conheceram também
ficou aquém do esperado, reduzindo o encontro a um mero acaso, não mais um
esforço voluntário de Han para libertar escravos (incluindo o wookiee,
que a partir de então dedicaria sua vida a proteger o amigo, como forma de
retribuição).
Outros momentos buscam formar a imagem do mercenário frio e calculista que vemos no filme de 1977. E ainda fazem referência à eterna discussão de que "Han atirou primeiro".
Os novos filmes têm se mostrado irregulares em termos de aceitação (principalmente junto à base consolidada de fãs), embora sempre rendam
bilheterias astronômicas:
2015 | Star Wars: Episódio VII - O Despertar da Força: um espetáculo que empolga, mas pouco agrega, ao utilizar
a mesma fórmula do filme original. O público percebeu.
2016 | Rogue One: um ótimo filme que expande o universo, oferece maiores vislumbres do novo cânone e se conecta corretamente (e com algum fan service) ao filme original, mantendo o interesse, mesmo que o desfecho da trama seja conhecido desde 1977.
2017 | Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi: uma produção que dividiu opiniões ao subverter a fórmula, desconstruir e eliminar personagens sem oferecer grandes revelações e recompensas em troca. Se o Episódio VII pecou pela "mesmice", o Episódio VIII exagerou no "diferente".
2018 | Han Solo: obra que se dispõe a apresentar a origem de um personagem clássico, mas que não causa o impacto esperado ao tratar de situações que são icônicas para os fãs.
Ao que parece, o desgaste está
vindo antes do esperado. É o problema de ter um filme por ano, quando parece
comprovado que os filmes da saga precisam de tempo para maturar, criar
expectativa e se tornarem eventos. A "fórmula Marvel" não vai necessariamente funcionar para toda e qualquer franquia. Ainda mais porque, mesmo com toda sua experiência, Kathleen Kennedy não é Kevin Feige.
Star Wars deixa de ser épico e começa a se
tornar genérico?