quarta-feira, 21 de maio de 2014

Xscape e o holograma

O ano de 2014 viu o lançamento de Xscape, segundo disco póstumo de Michael Jackson. São oito músicas ditas "inéditas" (muitas delas já haviam "vazado" em rádios e internet, mesmo que em versões inacabadas). Além disso, na versão deluxe do álbum, há mais oito versões originais destas faixas, além de um remix de Love Never Felt So Good, que conta com a participação de Justin Timberlake.



Obviamente, as expectativas (principalmente por parte dos fãs) eram altas. Depois do fraco (e muitos dirão oportunista) Michael, de 2010, ninguém queria outra "colcha de retalhos" que apenas explorasse a imagem do artista, visando o lucro fácil, sem levar em conta justamente o lado artístico. Felizmente, este novo disco foi bem produzido, com grande respeito à obra de MJ. E sem "participações especiais" e invencionices que ofuscassem (ou ampliassem) as falhas do álbum, como aconteceu no disco anterior. A única participação fica com o já citado Justin Timberlake (e resultou em um bom dueto, diga-se de passagem).
 
E para aumentar o hype em torno do lançamento, foi anunciado um evento que mostraria o Rei do Pop como nunca antes. No dia 18 de maio de 2014, durante a premiação Billboard Music Awards, o mundo testemunhou um acontecimento peculiar: o retorno de Michael Jackson aos palcos, em forma de holograma:


A apresentação gerou controvérsia. A música Slave To The Rhythm é genuína e está presente no disco, a performance é bacana, com muitos efeitos visuais e sonoros, dançarinos no meio da platéia e tudo mais. Entretanto, a figura que vemos como Michael Jackson é errática. Movimentação diferente do que estamos acostumados, sem a energia e a suavidade características. A face e os olhos estranhos. O passo mais emblemático, o moonwalk, executado de forma igualmente estranha. O sidewalk executado para o lado direito do espectador (quando Michael costumeiramente ia para o lado esquerdo da tela). Alguns outros movimentos exagerados e parecendo forçados.

Muito se falou a respeito após a apresentação. Que se tratava de um modelo CGI, que faltou tempo para completar o trabalho neste modelo. E por isso há problemas de sincronia dos movimentos e da boca do cantor. Mas ao que tudo indica, se tratava de um sósia, chamado Christopher Gaspar, que foi filmado executando a coreografia.


Este sósia veio a público dizer que foi, de fato, contratado pela Sony para filmar a coreografia, justamente para o caso de haver algum problema com o modelo CGI que seria criado. Agora, até que ponto podemos acreditar nisto e até que ponto este indivíduo está aproveitando a situação para se promover? Minha especulação? Usaram a filmagem com o sósia e apenas sobrepuseram um rosto CGI. Isto explicaria a movimentação estranha e as expressões faciais artificiais.

E de fato, se compararmos com aquele "holograma" de Tupac, apresentado há alguns anos, há grandes diferenças. Primeiramente, o palco estava totalmente escuro, com luz em apenas alguns pontos, justamente para não atrapalhar a projeção do "holograma". Ainda, em alguns momentos Tupac "flutua" sobre o palco, em outros seus pés atravessam a base do palco, o que poderia ser considerado uma falha na projeção.


No caso de MJ, temos um palco totalmente iluminado. No fim das contas, acredito que seja apenas uma projeção 2D de alta definição em uma tela plana, e não aquilo que se convencionou chamar de "holograma". Posso até escrever uma grande bobagem agora, até porque não sou especialista, mas holograma tem sombra? E voltando ao assunto do sósia: por mais que seja ótimo ver homenagens ao artista (mesmo que com fins lucrativos, para divulgar o novo disco), se foi mesmo usado um sósia ao invés de capturas de Michael enquanto vivo, é lamentável. E só mostra que a indústria fonográfica é capaz de qualquer coisa para manter um fluxo de caixa, ao explorar a imagem de um artista já falecido.

A mídia e o grande público, obviamente, adoraram a novidade. Espectadores presentes ao evento aplaudiram de pé. Acaba sendo um misto de emoções. Aplaudiram o quê? A apresentação? A música? A memória de Michael? O holograma? O sósia? A última vez que aplaudi Michael, foi quando assisti a This Is It no cinema. Todos os espectadores, ao final do filme, aplaudiram. Mas ali, era mais um tom de despedida do que qualquer outra coisa.


Enfim, apesar de contente por ver MJ ser enaltecido uma vez mais pelos motivos certos (sua música), fico preocupado em ver sua imagem sendo usada de forma errada. E isto que nem sou contra estas apresentações com "hologramas", desde que bem-executadas e dignas. Seja CGI mal-feito, sósia ou o que for, Michael merece mais. Mais empenho, mais talento, mais respeito. De resto, keep moonwalking...