Enfim assisti a O Espetacular Homem-Aranha, filme do herói aracnídeo mais famoso de todos os tempos.
E o que dizer deste filme?
Duas palavras: oportunidade perdida.
É triste escrever algo assim, mas é a verdade: este filme promete muito, mas entrega pouco, infelizmente. Ele junta-se a outros filmes de super-heróis que foram bastante aguardados, mas não se confirmaram, como "Superman - O Retorno" e "Lanterna Verde".
As comparações com o filme de 2002 são inevitáveis. Certo, lá se vão dez anos, mas a imagem de Tobey Maguire como Homem-Aranha ainda é vívida aos olhos do grande público. Mesmo assim, Andrew Garfield se esforça (e até tem algum sucesso) em apresentar um Peter Parker atormentado pela ausência de seus pais, mais "moderninho", de acordo com os dias atuais.
Esta nova aventura do amigo da vizinhança tenta recontar a origem do herói, mostrando novas facetas que moldam seu caráter. Entretanto, surgem escolhas equivocadas neste processo, que acabam quebrando o encanto da adaptação.
Aviso: teremos SPOILERS a partir de agora.
O filme começa com um flashback, mostrando Peter Parker ainda criança, testemunhando eventos estranhos envolvendo seu pai. O passado misterioso de Richard Parker (e o evento que o força a deixar Peter com seus tios Ben e May), bem como sua morte, parece servir apenas como um fraco fio condutor que liga Richard ao Dr. Curt Connors e às pesquisas que por fim darão origem ao herói e ao vilão, o Lagarto. Muito mistério e muitas pontas soltas, talvez na esperança de serem resolvidas em próximos filmes (se estes acontecerem).
Vemos mais uma vez Peter sendo mordido pela aranha geneticamente modificada. A partir daí, começa a descobrir seus poderes. A seguir, a tragédia na vida de Peter: a morte do tio Ben. Embora bem-apresentada, essa seqüência acontece de forma simplória e até com certa pressa.
Depois vemos Peter buscando vingança contra o assassino de seu tio, uma vingança que nunca acontece, uma vez que o bandido nunca é encontrado. É esta vingança que o move no início, até o momento em que salva um garoto e percebe que pode (e deve) fazer mais.
E assim surge o Homem-Aranha.
Apesar de boas cenas, não há muito impacto, tudo é mostrado com certo atropelo (tal qual aconteceu no filme do Lanterna Verde, por exemplo).
O roteiro até acerta em alguns aspectos, sendo fiel aos gibis. Por exemplo, temos um Aranha desbocado e piadista, bancando o engraçadinho sempre que pode. Não perde tempo explicando como Peter cria os lançadores de teia (ele simplesmente cria e pronto, não pergunte onde ou como ele conseguiu os recursos para isso). A concepção do uniforme também segue uma certa lógica, com Peter se baseando em roupas de atletas, bem como em personagens de luta-livre (uma sutil referência aos gibis e ao filme de 2002).
Mas um dos grandes erros deste filme é mexer em detalhes praticamente intocáveis da estória entre Peter Parker e Gwen Stacy. Talvez na tentativa de modernizar e tornar "mais real" o romance, o filme apresenta Peter contando desde o início que é o Homem-Aranha, algo que jamais aconteceu nos gibis. E essa era a "beleza da coisa": nos gibis, Gwen se apaixonou por Peter, não pelo Homem-Aranha. Mais ainda, detestava o herói, pois o considerava responsável pela morte de seu pai, o capitão de polícia George Stacy. É o grande dilema que atormentava o herói nos gibis (ama uma mulher que odeia seu alter-ego), mas que neste filme não existe. O romance acaba sendo apenas juvenil e bobo, sem as nuances tão bem exploradas nos gibis.
Seu relacionamento com o capitão Stacy também é superficial e, mesmo com um ótimo ator como Dennis Leary, pouco se acrescenta ao papel. Rapidamente o capitão passa de perseguidor implacável a aliado do herói (tudo bem, Gwen estava em perigo, mas poderia ter acontecido algo antes para tornar o capitão um pouco mais sensível à idéia de um herói escalador de paredes; do jeito que está, ficou parecendo forçado).
O mesmo acontece com o Dr. Curt Connors. Embora entendamos sua motivação (recuperar milagrosamente seu braço), suas ações mudam rapidamente da busca incansável pela fórmula milagrosa a um plano maligno para transformar toda a população em répteis malucos (e nem é possível oferecer uma desculpa do tipo "ele não sabia o que estava fazendo", uma vez que ele mantém sua consciência mesmo quando transformado no Lagarto; mas tudo bem, ele estava sob efeito da fórmula, darei um desconto).
Claro que o filme é muito bem produzido, efeitos especiais muito competentes, boas cenas de ação, tudo conforme a cartilha dos filmes baseados em gibis. Mas só isso já não basta. Faltou inovação, faltou o "algo a mais". As cenas "em primeira pessoa" divulgadas nos trailers (e que prometiam fazer valer ver o filme em 3D) decepcionam: são apenas duas e cada uma dura não mais do que dois segundos. Ainda, o ritmo do filme é bastante irregular: quando parece que vai "decolar" e teremos seqüências movimentadas, pouco acontece e somos jogados em alguma cena contemplativa ou de diálogo, para em seguida ser apresentada alguma ação intensa que virá acompanhada de mais um momento cadenciado. E assim por diante.
Enfim, como dito no início, este filme acaba não dizendo a que veio. Apresenta "mais do mesmo", deixa pontas soltas, tanto durante o filme como nos créditos, quando temos uma cena extra que não mostra coisa alguma e acaba pouco instigando, nem parecendo relevante a princípio. Mas vamos tentar: quem conversa com o Dr. Connors? Norman Osborn? Ou será Richard Parker? Um diálogo misterioso, quase irrelevante (ao menos no que diz respeito a aguçar a curiosidade do espectador, como tem sido feito nos filmes da Marvel, por exemplo).
No fim das contas, mesmo com toda boa vontade, fica parecendo que a Sony/Columbia fez este filme apenas para lucrar antes que os direitos cinematográficos sobre o Homem-Aranha voltem para a Marvel.
E de mais a mais, conforme ficou claro em "Os Vingadores", nem toda boa adaptação de um super-herói para o cinema precisa seguir o clima realista e sombrio dos últimos filmes do Batman.