quinta-feira, 28 de maio de 2015

Max

Eu nem pretendia comentar sobre Mad Max: Estrada da Fúria, novo filme com o Guerreiro da Estradas. Mas para provar uma vez mais que o ser humano é mesmo uma criatura contraditória, eis-me aqui a discorrer sobre a produção.


E, de fato, este será um texto bastante contraditório.


Ao trabalho então: achei o filme bom. Muito bom. Muito bem feito, muito bem produzido, com boas atuações, boas cenas de ação e belos visuais. Mas não embarquei no auê generalizado que vejo nas interwebz, onde o filme é tido como o melhor do ano e como revolucionário. Sem contar outros adjetivos que usam e abusam de palavras de baixo calão.

E um parênteses: com o perdão das palavras chulas a seguir, mas falar que algo é "foda", "do caralho" e similares, não quer dizer coisa alguma. No momento em que é preciso usar de palavrões para fazer valer um ponto de vista, já perdeu minha atenção. Todo mundo conhece palavras de baixo calão; você não é mais bacana, mais cool, mais "mito", por usá-las. Está apenas sendo grosseiro e deselegante (Sandra Annenberg mandou um beijo). Mas terá todo meu respeito quando expuser suas opiniões com clareza e consistência, sem recorrer a este tipo de palavreado. Ou seja:


A obra poderia ter entre 15 e 20 minutos a menos. São duas horas de projeção, tornando este o filme mais longo da franquia. Somente a perseguição inicial soma quase 30 minutos de duração. Se nos filmes originais as perseguições eram curtas e deixavam um bom "gostinho de quero mais", aqui é o contrário. Saí da sala de cinema cansado. Se esta era a intenção original de George Miller (fazer o espectador sentir o mesmo cansaço de seus personagens e a mesma sensação de que aquilo nunca teria fim), então parabéns a ele, conseguiu primorosamente. Li em algum lugar e concordo plenamente: o filme é na verdade uma única cena de perseguição de duas horas.

De novo, o filme não é ruim. Longe disso, é acima da média. Certamente a predileção por usar efeitos práticos ao invés de recursos CGI foi mais do que acertada. Apresentar uma trama que não fica se explicando a cada minuto (e portanto permite que o espectador tire suas próprias conclusões) é algo a se saudar. Não se perde tempo com diálogos fúteis ou explicadinhos demais. E justamente assim, diversos detalhes que possam não ter sido captados no primeiro momento, surgem mais adiante (ou mesmo ao rever o filme, o que aumenta o valor da produção no quesito replay).

Max é caladão, como sempre foi. Tom Hardy é competente, mas não é Mel Gibson. E este personagem é um daqueles casos em que é impossível dissociar do ator original (esperem pelo primeiro filme de Indiana Jones sem Harrison Ford e voltaremos a conversar sobre isto). Charlize Theron é a protagonista, em realidade. Mas isso não incomoda, já que a fórmula é a mesma desde o segundo filme: Max está vagando pela Terra Devastada, encontra um grupo de pessoas em apuros e resolve ajudá-las.


Chamar Hugh Keays-Byrne para interpretar o vilão Immortan Joe foi uma bela homenagem ao filme original, no qual ele deu vida ao antagonista Toecutter.


E se o filme é um deleite visual, vale uma curiosidade. A atriz Riley Keough, que interpreta a ruiva Capable (mais um deleite visual), é neta de Elvis Presley.


Algo que sempre me deixou para baixo nos filmes de Mad Max é o fato de o vermos pouco na direção do possante Interceptor V8. Ele só passa a dirigir o carro no final do primeiro filme e até a metade do segundo. No terceiro, nada. E neste novo filme, temos apenas 1 minuto e 20 segundos de Max no Interceptor. A seguir, o carro capota, Max é capturado e passamos a acompanhar a Furiosa. Max só volta a sentar ao volante de um veículo quando o filme já tem 40 minutos de duração.


Acho que a melhor explicação do que senti ao ver o novo Mad Max é esta: ele é tal qual a refilmagem do RoboCop dirigida por José Padilha em 2014. Filme bem feito, com bom elenco, bom diretor, boa trama e bons valores técnicos, mas que não causa o mesmo impacto do original. No caso de Max, não se equipara ao segundo filme (em minha opinião, o melhor da série).


A constar, este é o meu ranking dos filmes da franquia:

1. Mad Max 2
2. Mad Max / Mad Max: Estrada da Fúria
3. Mad Max Além da Cúpula do Trovão

Fiquei indeciso entre colocar o quarto filme antes ou depois do primeiro. O clássico de 1979 é um bom filme, mostra toda a origem de Max, mas não envelheceu tão bem: é arrastado demais, principalmente para os padrões atuais. Só quando Max enlouquece e parte ao encalço dos vilões, que o filme engrena de vez. Ainda assim, muito do que vemos em Estrada da Fúria remete aos dois primeiros filmes, o que mostra novamente o quão memoráveis estes são, ao passo que ainda precisamos esperar mais uns 15 ou 20 anos para saber se este quarto filme terá lugar de destaque junto aos demais. Provavelmente as cenas com o Doof Warrior serão lembradas.


Talvez eu esteja exagerando. Talvez esteja de picuinha com um bom filme. Talvez este texto tenha ficado tão longo quanto o filme. Talvez eu esteja ficando velho e rabugento mesmo. Ou talvez seja difícil saber quem está mais louco: eu... ou todos os outros.