quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Boca Santa

Dois "Causos de Cidra Beach" que atestam: não me tire do sério, pois, na hora de rogar praga, não falho. 


Os relatos a seguir só poderiam ter acontecido na localidade litorânea mais sensacional das galáxias. Sem maiores delongas, vamos a eles então.

Em meados dos anos 1980, em algum feriado, nos "velhos tempos de inverno", fui ao centro da cidade com meu irmão e alguns amigos. O passeio era sempre o mesmo: caminhar pelas ruas centrais, jogar fliperama, olhar as revistas na Casa do Leitor, fazer um lanche. Nesta ocasião, após findado o passeio, rumamos para casa, andando até o final da avenida central, em direção ao bairro. De repente, olhei para cima e vi o céu nublado, carregado. Sem titubear, proferi:

- "Ih, acho que vai chover".

Como se fosse uma ordem, pingos de chuva começaram a cair, primeiro devagar, mas, a cada segundo, com maior intensidade. Corremos para nos abrigar na área de uma casa. Esta estava fechada e era acessada através de uma escadinha de poucos degraus. Assim que nos posicionamos no local, um dos amigos olhou para mim e disse:

- "Uh, boca santa"!

Felizmente, a chuva parou poucos minutos depois e fomos embora. Um acontecimento curto, mas memorável  A casa ainda existe e pode ser vista na imagem abaixo:

Na época não havia cerca. Que tempo bom, que não volta nunca mais...

O segundo relato aconteceu no início dos anos 2000. Alguns amigos formaram um banda de punk rock (Baratas Urbanas mandaram lembranças) e tentavam obter sucesso em sua empreitada. Eu tentava ajudar como podia: criei uma página da banda nas interwebz, tentamos contato com alguns artistas proeminentes na cena da época, acompanhei ensaios, levei amigos para buscar equipamentos em cidades vizinhas. Enfim, quando havia disponibilidade, não me negava a ajudar. E, assim, me sentia parte da equipe.

Pois em um fim-de-semana de inverno, a banda conseguiu espaço para tocar em um bar no centro da cidade. Os amigos me convidaram, dizendo inclusive que eu não precisaria pagar ingresso. Combinamos de ir todos juntos para o local, mas por razões que não lembro mais, a banda foi antes. 

O recinto, em imagem de 2011.

Quando enfim cheguei, por estar separado dos demais, não me foi permitido entrar sem pagar. Pedi ao atendente da bilheteria que chamasse um dos membros da banda, para que liberasse meu acesso. Um deles veio à porta e perguntou se eu poderia entrar. O atendente repetiu que não. O amigo simplesmente deu de ombros e voltou para dentro.

Acabei pagando o ingresso para entrar. Fiquei chateado, mesmo com o valor sendo irrisório. Meus amigos começaram a rir e fazer chacota. Sem pestanejar, profetizei:

- "Quando vocês forem tocar, vai faltar luz".

Todos continuaram a rir. Um grupo de pagode se apresentou primeiro. Tudo tranqüilo, sem eventualidades. Enfim, chegou o momento da banda subir ao palco. Instrumentos ligados, todos posicionados, público na expectativa do rock 'n roll. O amigo guitarrista deu o primeiro acorde em seu instrumento e...

Faltou luz!

Mas não faltou luz apenas no local ou nas imediações. Faltou luz em Cidra Beach inteira, além da cidade vizinha. E só foi voltar no dia seguinte.

Desolados, os músicos, o público e os donos do bar não tiveram opção a não ser ir para casa. No fim, havia uma pessoa que estava rindo à toa. Adivinhe quem era...

Enfim, repito: nunca pise nos meus calos. Pode ser divertido na hora, mas também pode ser o momento de uma de minhas "profecias". Quem avisa, amigo é.