Todo vilão é fascinante, seja
Hannibal Lecter, Coringa, Darth Vader, Walter White ou a Bibi Perigosa. O
problema começa quando as pessoas passam a aceitar as decisões e atitudes
destes indivíduos como normais (ou até mesmo exemplares), muitas vezes
justificando que, no final, "o coitado se arrependeu" ou "lutava
por uma causa" ou algum outro argumento frágil.
O fascínio, tanto para o
intérprete quanto para o espectador, está justamente em toda a liberdade de
pensamentos e ações que um personagem vilanesco oferece. Algo que todos sabemos
não poder fazer por ser ilegal ou, simplesmente, errado (mas que, lá no fundo,
bem no fundinho, muitos adorariam fazer).
Esta atração muitas vezes acaba
se tornando admiração nas mentes mais incautas, que demonstram percepção rasa
e, assim, se tornam as "próximas vítimas" dos vilões, ao adotarem
posicionamentos tolerantes em relação a situações completamente
injustificáveis.
Ou seja, não importa que Anakin
Skywalker tenha traído a confiança de todos os Jedi e das pessoas mais próximas
em sua vida, não importa que ele tenha aniquilado todos os Jedi (incluindo
crianças) e quem mais se colocasse em seu caminho. Não importa que ele tenha
torturado inúmeras pessoas (incluindo sua filha, mesmo que ele ainda não
soubesse) ou ferisse tantas outras (incluindo seu filho, do qual ele já tinha
conhecimento). O que importa é que ele se arrependeu e matou o Imperador (e que
ele tinha uma armadura bacana. E um sabre-de-luz supimpa). Tudo resolvido.
Não importa se Walter White e
Bibi Perigosa se corromperam, roubaram, mataram ou cometeram outros tantos
crimes. O que importa é que são os personagens principais de suas produções e
devemos aceitar que o que estão fazendo é justificável. Afinal, fizeram tudo
por suas famílias. E Bryan Cranston e Juliana Paes são pessoas simpáticas, nada
mais justo que simpatizar com seus personagens e enaltecer tudo que fizeram
(mesmo que errado).
O mesmo vale para personagens
históricos retratados em grandes produções. Por mais que seja legítimo o
interesse em humanizar estas figuras, para estudá-las sob diferentes ângulos,
na maioria das vezes as ações destes personagens são toleradas e o impacto das
mesmas é reduzido, sendo mostrados meramente como pessoas que cometeram todo
tipo de atrocidades em prol de objetivos supostamente válidos (apenas em suas
mentes, que fique claro). A humanização muitas vezes desfaz a imagem de
facínora e impede a percepção do real terror que proporcionaram. Ainda mais
quando interpretados com competência, pois, além da fascinação com o
personagem, entra em cena a admiração pelo ator. E isto pode confundir.
O fascínio da vilania nos impede
de olhar com objetividade para os fatos. E quando exercitamos nossa percepção
de forma incorreta, justificando o injustificável, torna-se muito mais fácil
começar a aplicar estes valores invertidos na vida real. E, assim, não
surpreende quando vemos as pessoas aceitando e justificando atos criminosos,
seja de quem for (aquele seu político de estimação, por exemplo), fazendo valer
que "os fins justificam os meios", quando na verdade, se está
fascinado com aquela determinada personalidade e a liberdade que esta tem de
"burlar o sistema".
Enfim, divirta-se com seu
criminoso/vilão favorito, mas lembre-se de separar a ficção da realidade. Darth
Vader atacando soldados rebeldes é empolgante, Heisenberg tomando o controle
das situações é interessante, Bibi Perigosa "sambando na cara da
sociedade" é atraente. "Why so serious?" e "¿Plata
o Plomo?" já são frases icônicas. Mas a vida real é bem diferente. E o
fascínio que personagens vilanescos exercem sobre todos nós jamais deve se
tornar influência.