Ele mesmo. Zack Snyder!
Atualmente um dos responsáveis
pelo Universo Cinematográfico DC, Snyder recebe duras críticas, a cada filme
que dirige. Na maioria dos casos, são críticas justas e merecidas. Mas este não
é meu problema com Zack Snyder.
O que sempre me causou certa
indignação é o fato de Snyder ser chamado de "visionário". Entendo
que uma pessoa visionária é aquela que tem uma visão ou uma idéia original e a
transforma em realidade. Mas talvez os estúdios de Hollywood confundam
"visão" com "visual".
Snyder é um diretor competente,
principalmente ao criar o visual de seus filmes. Mas o "visionário"
pára por aqui. Um filme não é grandioso apenas pelo seu visual. Quando precisam
se envolver no desenvolvimento da trama e de personagens, Snyder e sua equipe
deixam a desejar, com decisões questionáveis, muitas vezes. E não podemos
esquecer o recurso tão adorado pelo diretor: a câmera lenta, usada com certa
propriedade em um ou dois de seus filmes, mas apenas como efeito sem sentido (e
repetido à exaustão) em muitos outros.
A verdade é que vivermos em uma
época de exageros como forma de marketing, Tudo é sensacional, tudo é
espetacular, tudo é "visionário". O grande problema é que este
"visionário" em muito deve seus melhores momentos ao material-fonte
que utilizou. É justamente quando tenta ser original e/ou se afastar do
material-fonte que Snyder comete seus pecados.
A maioria dos filmes que dirigiu
é composta por refilmagens ou adaptações de livros e HQs. Há apenas uma obra
completamente original dirigida por Snyder. Analisemos sua filmografia como
diretor:
Madrugada dos Mortos (2004)
Competente refilmagem do clássico
dirigido por George A. Romero em 1978. Snyder criou cenas instigantes, com boa
construção de situações, movimentação de câmera dinâmica e uma crítica social
pertinente (já presente no filme original). Muitos dizem que a "grande
sacada" do filme são os zumbis que se movimentam rapidamente e/ou correm.
Mas esta idéia não é original, já que Extermínio, lançado dois anos
antes, foi de fato o filme pioneiro neste quesito.
300 (2006)
Novamente, Snyder mostra
competência, ao transportar os quadros da HQ de Frank Miller para as telas de
cinema. É literalmente um gibi que ganha vida. A câmera lenta, tão adorada por
Snyder, ajuda a criar este efeito. Mas o mérito pela trama é de Snyder? Acho
que não, já que a HQ é praticamente um filme pronto, apenas esperando ser filmado, como muitas das clássicas obras de Miller costumavam ser.
Watchmen: O Filme (2009)
Aqui começam a chover as
críticas. Aqui o trem começa a sair dos trilhos. Também é aqui que as peças de marketing
começam a chamar Snyder de "visionário".
E, novamente, ele tem em mãos uma
trama pronta, coesa, completa, sem necessitar de muitas intervenções ou
invencionices. Muitas cenas são reproduções fiéis da HQ. É justamente nos
momentos em que Snyder tenta ser original que surgem as críticas mais
ferrenhas, geralmente sobre a descaracterização de alguns momentos-chave, o
final da trama alterado e a câmera lenta excessiva e desnecessária.
A Lenda dos Guardiões (2010)
Snyder se aventura com uma
animação, baseada em uma bem-sucedida série de livros. A conversa se repete:
inúmeros elogios para os visuais dos personagens e cenários, acompanhados de
críticas à narrativa e ao não-aproveitamento de todo o potencial que os livros
oferecem.
Sucker Punch: Mundo Surreal
(2011)
Este é o único filme de Snyder
que não é uma refilmagem ou uma adaptação de um livro ou HQ. É sua primeira
obra completamente original. Uma vez mais, o visual do filme é espetacular. E
fica por aí. A premissa é instigante, mas a trama se mostra confusa (mesmo na
versão estendida). Não podemos negar que é definitivamente um filme autoral,
com todas as peculiaridades de Snyder, sejam boas ou ruins.
O Homem de Aço (2013)
Já comentei sobre este filme, suas qualidades e
seus problemas (leia em Não é um 'S'). Em resumo, Snyder reapresentou o
Super-Homem, com o já esperado requinte visual e com muitas cenas de ação e
destruição. Mas a descaracterização do personagem, com o intuito desnecessário
de humanizá-lo, tornou toda a experiência questionável. Novamente, Snyder
trabalha com uma adaptação de um personagem e uma mitologia estabelecidos há 75
anos e, justamente quando tenta "reinventar a roda", falha
terrivelmente.
Batman vs Superman: A Origem
da Justiça (2016)
Assim como aconteceu com o filme
do Super-Homem, esta produção apresenta belo visual. E um roteiro que tenta ser
realista e sombrio, mas peca no exagero destas características, ficando, na
verdade, pesado e enfadonho (tudo que um filme de super-heróis não deve ser). Novamente, Snyder e os
roteiristas tentam fazer diferente e derrapam na curva. Temos uma das melhores
interpretações do Batman na tela grande, mas na tentativa de caracterizá-lo mais
envelhecido, cansado da vida e bruto, não hesitam em mostrá-lo usando armas de
fogo e matando inconseqüentemente. Errar é humano, persistir no erro é burrice. Snyder mostra que não entende plenamente o conceito de super-herói. Batman e Super-Homem, ao longo dos dois filmes, são na verdade anti-heróis e/ou heróis reticentes, o que vai contra as características que os tornaram populares ao longo de quase um século.
E foi preciso uma versão estendida, que
eleva a duração a três horas, para que o filme se tornasse mais consistente,
com mais detalhes que finalmente dão sentido a alguns momentos, para que
consigamos entender as motivações e questionamentos de alguns personagens. Mas,
ainda assim, não conserta muitos dos problemas: toda a "questão
Martha" ainda está lá, o combate contra Apocalypse continua complicado de
acompanhar, em meio a um profusão de cortes rápidos, câmeras lentas, explosões,
raios e outros efeitos visuais. Quando são necessárias três horas para
desenvolver a sua trama e, ainda assim, ela se apresenta deficiente, você
definitivamente precisa rever alguns conceitos.
Esse currículo traz preocupação.
Embora não vá dirigir todos os vindouros filmes da DC, Snyder está envolvido
como produtor em todos eles. Foi justamente para minimizar os possíveis danos
que a Warner/DC criou a DC Films, sob comando de Geoff Johns e Jon Berg. Ou seja
- assim como acontece com a Marvel, capitaneada por Kevin Feige - são estes
dois senhores quem ditarão as regras do Universo DC no cinema. Snyder foi
educadamente colocado para escanteio.
A conclusão? Se você quer um
filme com belo visual, Zack Snyder é a pessoa certa para o trabalho. Mas
arranje mais alguém para ajudar na hora de tomar decisões
importantes quanto ao desenvolvimento da trama, dos personagens e do universo que eles habitam. Snyder é o único a ser
creditado pelos resultados (bons ou ruins) de seus filmes? Não. Mas é o
diretor, é o capitão, é o responsável pelo rumo que determinada projeção
seguirá. Portanto, é natural que as críticas tenham foco especificamente nas
decisões que ele toma.
No fim das contas, amados ou odiados, cineastas como Snyder
e Michael Bay produzem obras que geram lucros. Para Hollywood, isto certamente
conta muitos pontos. E verdade seja dita, enquanto escrevo estas palavras,
Snyder e Bay produzem mais filmes. Enquanto debatemos sobre o que eles já
fizeram, ambos estão trabalhando em projetos futuros. Aos olhos dos grandes
estúdios, algo de certo eles estão fazendo, mesmo que desagradem fãs desta ou
daquela obra.
A lição que fica de tudo isto? Sejamos mais criativos e
menos negativos. Se Snyder produz filmes que deixam a desejar, que tal se cada um de nós
colocar a mão na massa e produzir obras mais interessantes?
Já não parece tão simples assim quanto criticar, não é
mesmo?