Hoje venho até vocês com um texto contemplativo, filosófico e
existencial. Sim, deixarei de lado o vigilantismo colecionístico (apenas
por uns breves instantes) para refletir sobre este ato de colecionar,
agrupar, catalogar, juntar…
Afinal de contas, por que eu coleciono?
Aos olhos das pessoas “normais”, colecionar é uma perda de tempo e de
dinheiro. É um ato infantil de pessoas materialistas, que só se
preocupam com o “ter” ao invés do “ser”. É um comportamento puramente
egoísta. Afinal, de que adianta comprar se não vai emprestar depois?
Qual a vantagem em comprar um filme que você já viu, um livro que você
já leu ou um disco cujas músicas tocam a todo instante nas rádios? E
pior, qual a vantagem de comprar vários destes itens?
Ora, amigos, sabemos que as questões que envolvem o colecionismo são
bem mais complexas e interessantes do que isso. A visão que um
colecionador tem sobre seus itens de coleção é completamente diferente
de um leigo, de uma pessoa “normal”.
Pessoalmente, resumo o ato de colecionar da seguinte forma: reunir
material e informação sobre assuntos que me interessam, de forma a ter
fácil acesso. Ou seja, quando compro um DVD ou Blu-ray, quero ter aquele
filme que gosto em minha estante, para ver aquela cena favorita quantas
vezes quiser, na melhor qualidade possível.
Mas “colecionar” é mais do que isso. É também saber que no meio
daqueles itens reunidos há algo raro, por exemplo. Algo que poucos
possuem e que assim ganha um valor diferente. E saber que a minha
coleção é única: somente eu a tenho e ela só existe conforme meus
desígnios. E assim sendo, cada coleção é única.
Colecionar é algo intrínseco ao ser humano, mesmo que não percebamos
isso. Colecionamos tudo em nossa vida. Afinal, gostemos ou não, é nisso
que nossa existência se fundamenta. A aquisição de matéria.
O exemplo máximo? Colecionamos dinheiro. Não é a mais interessante
das coleções, afinal, os itens são sempre os mesmos, mas a quantidade é o
que interessa. Esta é a coleção mais importante no mundo em que
vivemos, pois dela depende nossa sobrevivência.
Também colecionamos amigos. E em tempos virtuais isso fica ainda mais
evidente, com as redes sociais, onde cada um tem 999 amigos em sua
lista, mesmo que só se relacione realmente com umas 100 pessoas desta
lista (ou menos). Esta é a coleção mais relevante para nossa vida e deve
ser sempre composta de “itens” de grande valor.
Então qual é o espanto quando nos vemos colecionando filmes, livros,
gibis, brinquedos, selos, moedas, sapatos, vinhos, perfumes e tantas
outras coisas? O que nos leva a sermos “juntadores de coisas”. Qual é o
barato que esse vício nos causa?
Talvez seja a eterna criança em cada um de nós, sempre querendo mais e
mais brinquedos. Talvez seja alguma carência, relativamente suprida ao
comprar aquele item tão especial. Seria uma compulsão materialista
inexplicável? Ou será que o ato de colecionar ocorre simplesmente porque
é algo extremamente divertido (ao menos para quem coleciona)?
Os mais antigos podem se lembrar de todos os álbuns de figurinhas que
tiveram na infância e da árdua missão que se tornava completar cada um
deles. Conseguir aquela última figurinha, que nunca aparecia nos
envelopes e geralmente só um ou dois amigos tinham para trocar. Foi um
dinheiro jogado fora? Os mais práticos diriam que sim. Mas pensem agora
em todos os momentos em que vocês se divertiram, comprando e trocando
figurinhas com seus amigos, jogando “bafo” (e perdendo algumas ou muitas
figurinhas), trocando informações e idéias sobre o assunto daquela
coleção, até o instante em que o álbum ficou completo. Pensem em todas
as habilidades sociais desenvolvidas por uma criança no simples ato de
colecionar figurinhas ou brinquedos.
Agora pensem sobre essa nossa collectorsfera. Pensem em
todas as pessoas com que vocês já tiveram contato e já trocaram idéias
sobre colecionáveis. Pensem nos vários momentos divertidos que esse tipo
de contato proporcionou. Quando vejo a questão por esta perspectiva,
ouso dizer que o colecionador é a pessoa menos materialista neste mundo.
O que interessa é o contato, a troca de informação, aquele “orgulho
bobo” de mostrar um item colecionável para os amigos. E mesmo assim, se
“desta vida nada se leva” então, o melhor momento para ser materialista é
agora.
No fim das contas, coleciono porque quero uma maior proximidade com o
assunto-alvo de tal coleção. Coleciono porque o ato de montar uma
coleção me diz algo sobre quem eu sou em determinado momento. Coleciono
porque me sinto bem ao conversar com os amigos sobre algo pertinente a
uma determinada coleção.
E coleciono porque é simplesmente divertido.