quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Super-Herói

De que são feitos os heróis?
Como se cria um super-herói?

Vamos tentar construir uma imagem mental de um super-herói?

Se formos seguir os inúmeros exemplos dos gibis Marvel e DC, então todo super-herói precisa ter algum poder, habilidade ou talento que o diferencie das pessoas comuns.

Além disso, para afirmar essa diferença, um super-herói deve ter um uniforme, uma fantasia ou roupa, que tenha várias funções, desde proteção até algum outro significado especial.

Nem todo super-herói precisa, mas é sempre interessante possuir algum veículo especial, que também sirva como afirmação de poder.

Mais importante do que isso, segundo os ensinamentos do mestre Stan Lee, um super-herói de verdade precisa ser humano, no que se refere a seus conflitos, sua personalidade, suas virtudes e defeitos.

É através disso que conhecemos o verdadeiro herói, pois este supera seus próprios limites, vence seus próprios medos e, no processo, pode acabar ajudando outras pessoas, diretamente ou servindo como inspiração.

Já conseguiu criar uma imagem mental de um super-herói?


Seria assim?


Pois é, prezado leitor.

Na verdade, a palavra correta é "ídolo".

Mas Ayrton Senna poderia muito bem ser um super-herói, não?

Talento único, uniforme diferente, veículo especial.
Virtudes e defeitos que o tornam humano.
Força de vontade e poder de superação.

Esta é a figura mítica do vitorioso piloto de Fórmula-1 que todos conhecemos. Mas não é exatamente esta faceta "lendária" que é explorada no filme/documentário "Senna", lançado há pouco nos cinemas.

O filme, dirigido pelo inglês Asif Kapadia, mostra toda a idolatria, claro. Mas funciona muito mais ao exibir "os bastidores do mito". É então que vemos um Ayrton Senna diferente daquele que já conhecíamos.

Diferente, mas ainda assim o mesmo, por mais contraditória que esta frase possa parecer.

Diferente, porque é mostrado um piloto ativo nos bastidores da Fórmula-1, indignado com a politicagem que o prejudica e até coloca a vida dos demais pilotos em risco. Para a maioria dos brasileiros, este era um aspecto pouco conhecido da trajetória de Senna.

Mas ainda assim o mesmo, porque vemos um profissional dedicado, competitivo e objetivo. Alguém que não aceita derrotas. Que deseja melhorar e vencer seus limites. E que assim o faz.

O filme acerta ao não apelar para o "melodrama" e ao não tentar tornar tudo trágico em todos os momentos. A vida de Senna não foi trágica, embora sua morte tenha sido.

Com imagens e depoimentos obtidos das mais diversas fontes, traça um panorama do que era a Fórmula-1 naquela época. Mostra todas as artimanhas políticas que ocorriam (e ainda ocorrem) neste circo.

E neste contexto, apresenta o personagem principal, um "príncipe valente", decidido, que deseja vencer. E que precisa enfrentar as "forças do mal".


É claro que este subterfúgio é usado para prender o espectador à trama. Alain Prost torna-se o vilão do filme, "apadrinhado" pelo então Presidente da FIA, Jean-Marie Balestre. Mesmo sabendo que Prost não era o único rival (embora tenha sido o mais ferrenho, certamente), esta linha de ação funciona para o desenrolar do filme. As rivalidades com Nelson Piquet e Nigel Mansell, por exemplo, ficaram de fora. De todos os rivais, Mansell foi o mais "amigável", justamente pela boa índole do piloto inglês, por quem Senna tinha mais consideração.

De mais a mais, o filme mostra e faz relembrar aquilo que todos sabemos: Senna era um piloto brilhante, inigualável e incansável.
Fora das pistas, um verdadeiro ídolo, que usou sua influência para ajudar a quem pudesse e a inspirar uma nação.

É um filme que apresenta Senna a novas gerações, tão carentes de ídolos verdadeiros (como o Brasil estava quando Senna surgiu), seres humanos iguais a todos os outros, mas que se destacam com talento, força de vontade, persistência e dedicação. Sem malandragens e falcatruas, mas com trabalho duro e paixão.

O filme termina de forma melancólica, como não poderia deixar de ser. A história tem um fim triste, todos sabem. Mas se o importante em qualquer história não é sua conclusão, mas a jornada em si, então não há melhor do que este conto sobre a grande aventura de um herói verdadeiro:

Ayrton Senna da Silva.