segunda-feira, 24 de maio de 2010

Obrigado, doutor, por tudo...

Bem, amiguinhos.

Faz um tempinho desde que resenhei algum episódio de Lost aqui no blog. Mas o último episódio da série merece algumas considerações. Não farei uma resenha costumeira, apenas apresentarei as minhas idéias a respeito deste seriado, agora que chegou ao fim.



Lost foi um marco televisivo. Um seriado único, que demonstrou ao longo de seis temporadas competência necessária para capturar a curiosidade da audiência, mesmo quando os episódios apresentavam uma trama dita "fraca".

Este último episódio, devidamente chamado "The End", responde inúmeras perguntas feitas ao longo do seriado. Mas é claro que deixa muitas pontas soltas para possíveis continuações em outras mídias (um filme para o cinema está entre os rumores mais fortes).

Mesmo assim, "The End" revelou o que todos queriam saber: o destino dos principais personagens. O episódio, com quase duas horas de duração, colocou um ponto final na jornada de cada um dos carismáticos habitantes da ilha, desde que Jack abriu seus olhos após a queda do vôo 815 da Oceanic.

Mais do que encerrar a série, este episódio deixa uma sensação ambígua de melancolia e realização.

A partir daqui, amiguinhos, SPOILERS surgirão, portanto, fica o aviso. Mas se quiserem continuar lendo...

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O episódio narra o encontro final entre Locke (cujo corpo foi possuído pelo Homem de Preto) e Jack (o escolhido de Jacob). Kate, Sawyer e Hurley acompanham Jack, enquanto Ben e Desmond se encontram seguindo o Homem de Preto. Enquanto o confronto se aproxima e a ilha está para ser destruída, Lapidus, Miles e Richard Alpert agem para sair da ilha.

Esta é a premissa para um episódio eletrizante e comovente. Sacrifício é uma palavra constante, demonstrada nas ações de cada personagem.

E a partir daí, está aberta a porta para que todos os mais relevantes personagens apareçam em cena. Seja na ilha ou nos flashsideways (a "dimensão paralela").

E eis aqui a bela solução para muitas das questões do seriado. Estão preparados? Lá vêm os spoilers...

Sim, eles estão todos mortos.
O quê?!
Sim, todos mortos.
Mas não na ilha.
Os acontecimentos da ilha foram reais.
Quem morreu na ilha, morreu de verdade.

Os flashsideways foram a grande tirada dos roteiristas. A "dimensão paralela" é na verdade o "purgatório", embora esta não seja a melhor palavra. É um local onde os personagens encontram a redenção. É um "limbo", onde todos se encontram e se preparam para "seguir adiante", como bem disse Christian Shephard, ao revelar tudo a seu filho.

Tudo bem, há uma questão de interpretação muito válida. Muitos consideram que a ilha era o "purgatório" e que a dimensão paralela seria o "paraíso". Não descarto essa possibilidade. Desmond era a ferramenta, a arma para vencer o monstro. Ao cumprir seu destino, Desmond acabou com os poderes do Homem de Preto, deixando o caminho livre para que Jack completasse a missão.

E todos pensaram: "Que coisa óbvia. Jack é o escolhido". Até o Homem de Preto pensou assim.Ledo engano. Jack foi o escolhido para derrotar o monstro, apenas. Mas é Hurley quem fica encarregado de proteger a ilha, como Jacob fez por tanto tempo.

Todas estas informações são apresentadas em meio a cenas que evocam compaixão, tristeza, alegria, realização. Compaixão demonstrada por Hurley durante toda a série, mas ainda mais acentuada quando este pede que Ben o ajude a proteger a ilha. Ou quando o verdadeiro Locke perdoa Ben pelos atos do passado. A tristeza ao perceber que todos estavam mortos há tempos, buscando sua redenção e iluminação. Alegria quando os personagens se reúnem ao final do episódio, para juntos embarcarem em uma nova e misteriosa jornada. E realização ao observar como cada um tinha seu propósito, alcançado de uma maneira ou de outra.

Após o confronto com o Homem de Preto, Jack nomeia Hurley o novo protetor da ilha e sacrifica-se para evitar que esta seja destruída, salvando Desmond no processo.

O episódio acaba da forma como começou: Jack deitado no meio de bambus, tendo intercaladas cenas de seu reencontro com os demais no "limbo".

O que tudo isso significa? A maior resposta é a de que os personagens não estavam perdidos na ilha, mas sim, perdidos na vida. Somente ao se reunirem no "limbo", puderam prosseguir em sua jornada, pois jamais poderiam fazer sozinhos.

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Apesar de todas as teorias sobre o seriado, todas as explicações científicas, todas as referências religiosas, o que fica é uma mensagem simples: não importa "onde", "como" ou "quando", mas sim, "o quê" e "por quê". Não é o fim que importa, mas a jornada em si. Do contrário, "see you in another life, brotha"...

Lost termina como uma série memorável, incomparável e inteligente. Confusa para muitos, principalmente se não acompanhada desde o início. Mas incontestável em sua infinita capacidade de aguçar a imaginação dos espectadores.


E se há uma mensagem que fica para mim, pessoalmente, seria esta:

"Espero que alguém faça por você o que você acabou de fazer por mim".

The End.