quarta-feira, 27 de março de 2013

Colecionando a vida adoidado

Publiquei este texto originalmente no Blog do Jotacê, mas achei interessante replicá-lo aqui:

Hoje venho até vocês com um texto contemplativo, filosófico e existencial. Sim, deixarei de lado o vigilantismo colecionístico (apenas por uns breves instantes) para refletir sobre este ato de colecionar, agrupar, catalogar, juntar…

Afinal de contas, por que eu coleciono?

Aos olhos das pessoas “normais”, colecionar é uma perda de tempo e de dinheiro. É um ato infantil de pessoas materialistas, que só se preocupam com o “ter” ao invés do “ser”. É um comportamento puramente egoísta. Afinal, de que adianta comprar se não vai emprestar depois? Qual a vantagem em comprar um filme que você já viu, um livro que você já leu ou um disco cujas músicas tocam a todo instante nas rádios? E pior, qual a vantagem de comprar vários destes itens?

Ora, amigos, sabemos que as questões que envolvem o colecionismo são bem mais complexas e interessantes do que isso. A visão que um colecionador tem sobre seus itens de coleção é completamente diferente de um leigo, de uma pessoa “normal”.


Pessoalmente, resumo o ato de colecionar da seguinte forma: reunir material e informação sobre assuntos que me interessam, de forma a ter fácil acesso. Ou seja, quando compro um DVD ou Blu-ray, quero ter aquele filme que gosto em minha estante, para ver aquela cena favorita quantas vezes quiser, na melhor qualidade possível.

Mas “colecionar” é mais do que isso. É também saber que no meio daqueles itens reunidos há algo raro, por exemplo. Algo que poucos possuem e que assim ganha um valor diferente. E saber que a minha coleção é única: somente eu a tenho e ela só existe conforme meus desígnios. E assim sendo, cada coleção é única.

Colecionar é algo intrínseco ao ser humano, mesmo que não percebamos isso. Colecionamos tudo em nossa vida. Afinal, gostemos ou não, é nisso que nossa existência se fundamenta. A aquisição de matéria.


O exemplo máximo? Colecionamos dinheiro. Não é a mais interessante das coleções, afinal, os itens são sempre os mesmos, mas a quantidade é o que interessa. Esta é a coleção mais importante no mundo em que vivemos, pois dela depende nossa sobrevivência.

Também colecionamos amigos. E em tempos virtuais isso fica ainda mais evidente, com as redes sociais, onde cada um tem 999 amigos em sua lista, mesmo que só se relacione realmente com umas 100 pessoas desta lista (ou menos). Esta é a coleção mais relevante para nossa vida e deve ser sempre composta de “itens” de grande valor.

Então qual é o espanto quando nos vemos colecionando filmes, livros, gibis, brinquedos, selos, moedas, sapatos, vinhos, perfumes e tantas outras coisas? O que nos leva a sermos “juntadores de coisas”. Qual é o barato que esse vício nos causa?


Talvez seja a eterna criança em cada um de nós, sempre querendo mais e mais brinquedos. Talvez seja alguma carência, relativamente suprida ao comprar aquele item tão especial. Seria uma compulsão materialista inexplicável? Ou será que o ato de colecionar ocorre simplesmente porque é algo extremamente divertido (ao menos para quem coleciona)?

Os mais antigos podem se lembrar de todos os álbuns de figurinhas que tiveram na infância e da árdua missão que se tornava completar cada um deles. Conseguir aquela última figurinha, que nunca aparecia nos envelopes e geralmente só um ou dois amigos tinham para trocar. Foi um dinheiro jogado fora? Os mais práticos diriam que sim. Mas pensem agora em todos os momentos em que vocês se divertiram, comprando e trocando figurinhas com seus amigos, jogando “bafo” (e perdendo algumas ou muitas figurinhas), trocando informações e idéias sobre o assunto daquela coleção, até o instante em que o álbum ficou completo. Pensem em todas as habilidades sociais desenvolvidas por uma criança no simples ato de colecionar figurinhas ou brinquedos.

Agora pensem sobre essa nossa collectorsfera. Pensem em todas as pessoas com que vocês já tiveram contato e já trocaram idéias sobre colecionáveis. Pensem nos vários momentos divertidos que esse tipo de contato proporcionou. Quando vejo a questão por esta perspectiva, ouso dizer que o colecionador é a pessoa menos materialista neste mundo. O que interessa é o contato, a troca de informação, aquele “orgulho bobo” de mostrar um item colecionável para os amigos. E mesmo assim, se “desta vida nada se leva” então, o melhor momento para ser materialista é agora.


No fim das contas, coleciono porque quero uma maior proximidade com o assunto-alvo de tal coleção. Coleciono porque o ato de montar uma coleção me diz algo sobre quem eu sou em determinado momento. Coleciono porque me sinto bem ao conversar com os amigos sobre algo pertinente a uma determinada coleção.

E coleciono porque é simplesmente divertido.